"Abençoado seja o Humano que busca Deus à sua própria maneira, ainda que eles estejam em algum prédio, entoando canções ou cultivando doutrinas, que podem ser fabricadas pelo homem.
Na realidade, eles empregam todo o seu coração e a sua compaixão, na busca de Deus.
Que eles não sejam julgados por seus irmãos e irmãs, por este motivo, pois são igualmente amados por Deus."

sábado, 28 de maio de 2011

A História de Michael Thomas e os Sete Anjos II

CAPÍTULO II

A Visão


Mike acordou num lugar desconhecido. Então, com um clarão na memória, lembrou-se de tudo. Vagandoao acaso, os seus olhos, descobriram que não estava no seu apartamento, nem sequer num hospital da cidade.
Tudo estava calmo. De facto, o silêncio era tão constrangedor que começava a ficar nervoso. Não ouvia nenhum outro som excepto o da sua própria respiração! Nenhum carro passava na rua, nenhum barulhode ar condicionado – nada, nada! Mike soergueu-se e conseguiu recostar-se na cama.
Olhou para baixo, e reparou que estava deitado numa estranha cama, pequena como uma marquesa. Não tinha pijama, e vestia exactamente a mesma roupa do dia em que fora atacado. Levantou a mão e tocou no pescoço. O seu último pensamento, enquanto ainda estava consciente, fora de que estava partido, mas, para seu alívio, não detectou nenhum sinal de fractura. Mike, na verdade, sentia-se muito bem! Apalpou-se em diversos lugares, e o mais estranho é que não tinha nenhum ferimento ou inchaço no corpo. Mas… aquele silêncio!
Estava a ficar louco por não ouvir qualquer estímulo para os seus ouvidos. A luz era estranha, também.
Parecia vir de lugar nenhum e de todos, ao mesmo tempo. Era de um branco brilhante – um branco
tão vazio de cores que feria os olhos. Então, decidiu examinar melhor o lugar onde estava.
Era assombroso. Não estava num quarto – e não estava ao ar livre! Só havia ele, a cama e o chão branco, que se estendia até onde podia ver. Deitou-se novamente. Sabia o que acontecera: estava morto. Não era preciso ser um cientista para reconhecer que o que estava a ver a e sentir não correspondia ao mundo verdadeiro.
Mas… por que ainda conservava o corpo?... Mike decidiu tentar algo absurdo. Beliscou-se para ver se sentia dor, e contraiu-se proferindo um forte Ai!
- Como te sentes, Mike? - perguntou uma calma voz masculina.
Mike imediatamente olhou na direcção da voz e viu uma figura da qual não se esqueceria para o resto da sua vida. Sentiu uma presença angélica, uma sensação de grande amor.
Mike sempre se perguntava primeiro o que SENTIA, e só depois o que VIA. Realmente, tinha o hábito de
descrever as suas experiências desta maneira quando era questionado, e, naquele momento, viu uma figura de branco, ameaçadora e esplendorosa ao mesmo tempo. Perguntou: «São asas, isso que estou a ver? Que banal!»… E sorriu para visão que tinha à sua frente, achando difícil de acreditar que era real.
- Estou morto? - perguntou estoicamente, mas com respeito, ao ser que estava na sua frente.
- De modo algum. - disse a figura, aproximando-se. «Isto é apenas um sonho, Michael Thomas.» A aparição aproximou-se ainda mais, aparentemente sem andar. Mike viu uma face velada, desfocada do «homem» em frente à sua cama, mas, de alguma forma, sentiu-se a salvo, seguro e protegido. Tudo o que podia fazer era continuar a conversa. Era uma sensação óptima!
A figura estava vestida de branco, mas não se podia dizer que usava roupa. A vestimenta parecia estar viva e movia-se com a figura, como se fosse a sua pele. A face era indefinida. Mike não conseguia ver nenhuma prega, botão ou vinco, onde a roupa acabava e a pele começava, apesar dessa estranha vestimenta não ser apertada. Parecia uma renda flutuando e, por vezes, parecia brilhar de forma vaga e indistinta. Além disso, aos olhos de Mike, essa veste branca parecia misturar-se com a incrível brancura que o cercava. Era difícil ver onde acabava a figura angélica e começava o cenário dos acontecimentos.
- Onde estou eu?... Parece uma coisa idiota, mas acho que tenho o direito de fazer esta pergunta, - disse
Mike em voz baixa.
- Estas num local sagrado. Um local que tu mesmo construíste, e está repleto de amor. É exactamente isso
que estás a sentir agora. - A angélica figura inclinou-se para Mike e pareceu emitir ainda mais luz.
- E tu, quem és...? - perguntou Mike respeitosamente, apenas com um fio de voz.
- Provavelmente adivinhaste. Eu sou um anjo.
Mike nem pestanejou. Sabia que aquela visão estava a dizer a verdade. A situação, apesar de estranha, era extremamente real. Mike percebeu tudo claramente.
- Os anjos são do sexo masculino?
Mike arrependeu-se imediatamente de ter feito a pergunta assim que a formulou. Que parvoíces lhe dava para perguntar! Era, obviamente, um dia muito especial. Se era um sonho, era tão real como jamais experimentara.
- Eu sou apenas o que tu desejas ver, Michael Thomas. Não sou uma forma humana. O que estás ver é apresentado desta forma para que te sintas confortável. Mas, não – os anjos não são do sexo masculino. Na verdade não temos sexo. E também não temos asas.
Mike sorriu novamente, pensando que o que estava a ver talvez fosse um produto da sua imaginação.
- Que aspecto tens realmente? - perguntou Mike, que começava a sentir-se com mais liberdade para conversar normalmente com esta criatura amorosa. - E porque é que o teu rosto está velado? - Esta era uma pergunta válida, dentro das circunstâncias.
- A minha forma iria surpreender-te. Além disso, sentirias uma estranha lembrança ao vê-la, pois também é a forma com que te pareces, quando não estás na Terra. Esta forma está além de qualquer descrição. Portanto, continuarei assim, por agora. Quanto ao meu rosto, vê-lo-ás em breve.
- Quando não estou na Terra?
- A experiência na Terra é temporária, mas tu já sabes isso, não? Eu sei quem tu és, Michael Thomas. És um ser espiritual que compreende a natureza eterna dos Seres Humanos. Já agradeceste uma infinidade de vezes por possuíres uma natureza espiritual, e aqueles que estão ao meu lado ouviram cada uma das tuas palavras.
Mike ficou em silêncio. Sim, ele tinha rezado nas igrejas e em casa, mas pensar que fora ouvido claramente era difícil de acreditar. Esta entidade no seu sonho conhecia-o?
- De onde vens? - perguntou.
- De Casa.
A entidade amorosa, agora, parecia estar a brilhar directamente em frente da pequena cama de Mike. A figura inclinou a cabeça de lado – e esperou pacientemente enquanto Mike assimilava tudo aquilo. Mike sentiu um arrepio subir e descer pela coluna vertebral. Um forte sentimento dizia-lhe que estava perante uma grande verdade e que um jorro de conhecimento lhe seria dado, se o pedisse.
- Tens razão! - respondeu o anjo aos pensamentos de Mike. - O que fizeres agora irá mudar o teu futuro.
Sabes que é assim, não é verdade?
- Consegues ler meus pensamentos? - perguntou Mike timidamente.
- Não. Podemos senti-los. O teu coração está ligado a todos, como sabes, e nós respondemos quando tu precisas de nós.
A situação estava a ficar cada vez mais misteriosa.
- Falas no plural. Mas eu só te vejo a ti.
O anjo riu-se abertamente… e o som era espectacular. Que energia tinha aquele riso! Mike sentiu cada célula do seu corpo ressoar com o humor que o anjo expressava. Tudo que o anjo fazia era novo, maior do que a vida e, de alguma forma, trazia uma lembrança que estava fundo no subconsciente de Michael. Estava atordoado com aquela vibração, mas nada disse.
- Eu falo contigo com a voz de um, mas represento as vozes de muitos. - declarou o anjo, enquanto levantava os braços, deixando a sua estranha veste flutuar e ondular com o movimento. - Há muitos ao serviço de cada Ser Humano, Michael. Isto tornar-se-á óbvio para ti, caso faças essa escolha.
- É claro que faço essa escolha! – gritou Mike. Como poderia um convite como aquele ser ignorado?...
Mas logo se sentiu embaraçado, como se estivesse a agir como uma criança perante um artista de cinema.
Ficou em silêncio durante algum tempo e viu o anjo mover-se para cima e para baixo, como se estivesse em cima de um elevador hidráulico. Reflectiu novamente sobre se tudo aquilo poderia ser o resultado do seu desejo de perceber as coisas, por ter assistido a filmes, ido à igreja, ou contemplado grandes obras de arte.
Estava tudo em silêncio novamente – e que silêncio! O anjo, obviamente, não iria partilhar informações a menos que Mike começasse a fazer perguntas:
- Posso saber qual é a minha situação?... Isto é realmente um sonho?... Parece tão real.
O anjo aproximou-se e disse:
- O que é um sonho, Michael Thomas?... Um sonho é uma visita à tua mente biológica e espiritual, que te permite receber informações sobre o meu lado do véu – algumas vezes metaforicamente. Sabias disto?... Um sonho pode não ser igual à tua realidade, mas, na verdade… está mais perto da realidade de Deus, do que qualquer outra experiência que tenhas regularmente! Como te sentiste sempre que o teu pai e a tua mãe participaram nos teus sonhos?... Não parecia real?... Parecia… e era! Lembras-te da semana após o acidente,
quando eles te visitaram?... Tu, como resposta, choraste durante semanas. Era a realidade deles. As suas mensagens para ti eram reais. Eles continuam a partilhar amor contigo, Michael, porque, tal como tu, são eternos. Quanto às perguntas sobre a tua situação, por que pensas que estás a ter este sonho?... Este é o único propósito desta visita. É algo lícito, que ocorre no tempo certo.
Mike estava contente com a longa conversa com este maravilhoso ser, que lhe parecia cada vez mais familiar.
- Será que me sairei bem desta situação?... Acho que estou seriamente ferido e inconsciente. Talvez até esteja a morrer.
- Depende. - disse o anjo.
- Depende de quê?
- O que é que realmente queres, Michael? - perguntou o anjo amorosamente. - Diz-nos o que realmente desejas. Mas tem cuidado com o que vais dizer, pois a energia de Deus, geralmente, é literal. Além disso, nós sabemos o que tu sabes. Não podes enganar a tua própria natureza.
Michael desejava ser honesto na sua resposta. A situação cada vez era mais real. Lembrava-se realmente dos sonhos nítidos que tivera com os pais, logo após o acidente. Eles apareceram juntos, nas poucas vezes em que conseguira dormir naquela semana terrível, e tinham-no abraçado e amado. Disseram-lhe que era o tempo certo para partirem – qualquer que fosse o significado. Mike, de facto, não tinha aceite o que acontecera.
E disseram que os eventos que culminaram com as suas mortes tinham acontecido para que Michael recebesse um presente. Ele sempre se perguntara que tipo de presente seria… mas aquilo era apenas um sonho, ou não?... O anjo dissera que era real. A experiência parecia-lhe tão verdadeira que talvez as mensagens dos pais também o fossem… assim como o anjo. «Como é confuso», pensou com frustração! «O que desejo eu?» perguntou a si mesmo. Considerou a sua vida e todas as coisas que tinham acontecido no ano que passara. Sabia o que queria… mas achou que não seria correcto pedir.
- Michael, ocultar os desejos mais íntimos não confirma a tua magnificência - disse-lhe o anjo em tom de brincadeira.
- Que chatice! - Mike disse para si mesmo. - O anjo apercebeu-se novamente do que estou a pensar. Não há nada que eu possa esconder. - Então, indagou:
- Se já sabes o que quero, por que vieste perguntar-me?... E que história é essa de eu ser magnífico?
Pela primeira vez, o anjo mostrou algo diferente de um sorriso. Era um sentimento de honra e respeito!
- Tu não tens ideia do que e de quem és realmente, Michael Thomas, - disse o anjo com seriedade. E acrescentou: - Achas-me maravilhoso?... Pois deverias ver como tu és!... Algum dia verás. Quanto ao facto de saber os teus pensamentos e sentimentos, é claro que sei. Sou uma parte do apoio que recebes e, portanto, estou contigo de muitas maneiras. É uma honra para mim aparecer para ti, mas, desta vez, é a tua intenção que vai trazer as mudanças. Tens agora a oportunidade de me dizer, ou não, qual é o teu maior desejo como Ser Humano neste momento. A resposta deve vir do teu próprio coração e ser dita em voz alta, para que todos possam ouvir – até tu! O que fizeres a este respeito, representará uma enorme diferença para muitos outros seres.
Mike deixou aquelas palavras penetrarem dentro dele. Teria de dizer a sua verdade, mesmo que não fosse exactamente o que o anjo queria ouvir. Pensou por um momento, e disse:
- Eu quero ir para Casa! Estou cansado desta vida como Ser Humano!
Pronto! Dissera tudo. Queria ir-se embora, e acrescentou emocionado:
- Mas não quero evitar algo que seja importante no plano de Deus… A vida parece não ter sentido, mas aprendi que fui feito à imagem de Deus, com um propósito… portanto, o que posso fazer?
O anjo moveu-se para o lado da cama, para que Mike pudesse vê-lo melhor. Era espantosa, essa visão, esse sonho ou o que quer que fosse. Iria jurar que sentia o perfume de violetas – ou seriam lilases?.. Mas, porquê flores? O anjo naturalmente tinha um perfume! E era mais maravilhoso ainda quando se aproximava.
Michael sabia de que o anjo estava contente com o diálogo. Podia sentir isso, mesmo que não conseguisse visualizar nenhuma expressão no rosto angelical.
- Diz-me, Michael Thomas: É pura a tua intenção?... Queres realmente o que Deus quer?.... Desejas ir para Casa, mas também estás ciente de um plano maior – não queres desapontar-nos ou actuar de uma forma espiritualmente errada?
- Sim, - disse Mike. - É isso mesmo. Quero livrar-me dessa situação, mas receio que o meu desejo seja uma contradição… ou seja egoísta.
- E se eu te disser que podes conseguir ambas as coisas? - perguntou o anjo com um sorriso. - E se eu te
disser que o teu desejo de ir para Casa não é egoísta, mas natural, e não está em conflito com o desejo de honrares o teu propósito enquanto Ser Humano.
- Por favor, diz-me como posso fazer isto, - pediu Mike, excitado.
O anjo tinha visto o coração de Mike e agora honrava-o espiritualmente pela primeira vez.
- Michael Thomas de Intenção Pura, a fim de determinar se é isto que queres, devo fazer mais uma pergunta antes de continuar a falar sobre o assunto. - O anjo moveu-se ligeiramente para trás e concluiu:
- O que esperas ganhar indo para Casa?
Mike meditou fundo sobre isto. O seu silêncio teria sido incómodo durante uma conversa normal entre pessoas, mas o anjo entendeu perfeitamente, sabendo que esta era uma hora sagrada para a alma de Michael Thomas. Pela medida do tempo na Terra, Michael ficou parado durante dez minutos ou mais, mas o anjo não se moveu nem disse nada. Não teve nenhuma demonstração de impaciência ou cansaço. Mike começava a
perceber que essa entidade não tinha realmente a percepção do tempo, e que a impaciência dos
Seres Humanos se devia à sua realidade do tempo linear.
- Eu quero ser amado e estar perto do amor, - foi a resposta de Mike. - Quero sentir-me pacífico durante a minha existência. - E depois de uma pausa: Não quero estar sujeito às preocupações e interacções triviais daqueles que me cercam. Não quero preocupar-me com dinheiro. Quero sentir-me solto! Estou cansado de estar sozinho. Quero sentir-me importante para outras entidades no Universo. Quero saber que existo com algum propósito, e que a minha parte no céu – ou qualquer que seja o nome – possa ser correcta e apropriada ao plano de Deus. Não quero continuar a ser um Ser Humano como tenho sido.
Quero ser como tu! -
Fez outra pausa e acrescentou.
- É isto que «ir para Casa» significa para mim.
O anjo deslocou-se outra vez para os pés da cama e comentou:
- Então, Michael Thomas de Intenção Pura, irás ter aquilo por que tanto te empenhaste!
O anjo parecia estar ainda mais brilhante, como se isso fosse possível! Exibia uma incandescente luz branca, que, agora, começava a misturar-se com uma cor dourada.
- Mas deves seguir o caminho que está previsto e deves fazê-lo voluntariamente, com intenção e por escolha própria. Então serás recompensado com a viagem para Casa. Farás isso?
- Sim, farei, - respondeu Mike. E percebeu o início de um sentimento incrível, que somente poderia ser descrito como um banho de amor. O ar começou a ficar denso. O brilho do anjo começou a rodear a cama e os pés de Mike. Arrepios começaram a subir-lhe pela sua espinha e, involuntariamente, começou a tremer com uma vibração rápida, como nunca sentira antes. Era tão rápido que parecia um zumbido. Subiu pelo corpo até a cabeça. A sua visão começou a mudar, com flashes momentâneos de azul e violeta, fazendo grande contraste com o branco intenso que estivera a ver desde que tudo começara.
- O que está a acontecer? - perguntou Mike amedrontado.
- A intenção que manifestaste está a mudar a tua realidade.
- Não entendo - disse Mike aterrorizado.
- Eu sei, respondeu o anjo num tom compassivo. - Não tenhas medo da integração de Deus no teu ser. É uma fusão que requisitaste e que é lícita para a tua Jornada para Casa.
O anjo afastou-se da estreita cama de Mike, como se quisesse dar-lhe mais espaço.
- Não te vás embora, por favor! - exclamou um Mike, ainda assustado e amedrontado.
- Calma. Estou apenas a ajustar-me ao teu novo tamanho, - disse o anjo, divertido. - Partirei apenas quando tivermos acabado.
- Continuo sem compreender, mas não estou com medo, - mentiu Mike.
Novamente o anjo se riu e encheu o espaço com uma ressonância que surpreendeu Mike com a sua alegria e intensidade de amor. Mike viu que ali não havia espaço para segredos, pelo que continuou a falar. Tinha de saber que sensação era aquela. E o anjo voltou a rir-se.
- O que acontece quando ris? Se alguma forma, isso afecta-me internamente. É algo que nunca senti antes.
O anjo, encantado com a pergunta, respondeu:
- O que tu ouves e sentes é um atributo que é puramente da fonte de Deus, - disse o anjo. O humor é uma das únicas qualidades que passam imutáveis do nosso lado para o teu. Já pensaste que os Seres Humanos são as únicas entidades biológicas da Terra que podem rir? Podes acreditar que os animais riem, mas estão apenas a responder a estímulos. Vocês são os únicos seres que têm a chispa real da sabedoria espiritual que dá suporte a esta propriedade; os únicos seres que podem criar humor a partir de um pensamento abstracto ou de uma ideia. Portanto, a tua consciência é a chave. Acredita-me, o humor é sagrado, e é por este motivo que cura, Michael Thomas de Intenção Pura.
Esta era a explicação mais longa que o anjo já lhe dera até ao momento. Mike sentiu que poderia conseguir extrair mais algumas jóias de verdade, antes que aquele momento passasse. E tentou avidamente.
- Como te chamas?
- Eu não tenho nome.
E o silêncio regressou numa longa pausa. - Ops! - pensou Mike, voltamos às respostas curtas.
- Como és conhecido? - continuou a investigar.
- Eu SOU conhecido por todos, Michael Thomas – e porque SOU conhecido por todos, logo existo.
- Não entendo - respondeu Mike.
- Eu sei - disse o anjo sorrindo. Mas este riso era uma homenagem à inocência de Michael, numa situação onde não se esperava que pudesse saber mais sobre o assunto – tal como um pai consentiria que o filho lhe fizesse perguntas perspicazes sobre a vida. Havia amor em tudo que o anjo dizia ou fazia. Mike sabia que tinha de parar de pressionar e ir directamente ao centro da questão.
- De que caminho estás tu a falar, querido anjo? - Mike sentiu-se desconfortável por ter utilizado a palavra «querido», mas, de alguma forma, tal expressão cabia à personalidade que estava à sua frente. O anjo era paternal, fraterno e amigo, e, simultaneamente, ainda transmitia a sensação de ser um amante. Este era um sentimento que Mike não esqueceria tão cedo. Queria permanecer nesta energia, e temia o pensamento de que ela poderia chegar a um fim.
- Quando voltares para a tua realidade, Michael, prepara-te para empreender uma aventura de vários dias.
Quando estiveres pronto, o início do caminho ser-te-á mostrado. Serás convidado a viajar para as sete Casas
do Espírito, e em cada uma delas encontrarás uma entidade parecida comigo, cada uma com um propósito diferente. O caminho poderá ter surpresas e até perigo, mas poderás parar sempre que quiseres, e não haverá nenhum julgamento sobre isso. Vais transformar-te durante o caminho e aprenderás muitas coisas. Serás convidado a estudar os atributos de Deus. Se visitares todas as sete lugares, então a porta para o Casa ser-te-á mostrada. E, Michael Thomas de Intenção Pura - o anjo fez uma pausa e sorriu - haverá uma grande celebração quando abrires essa porta.
Mike não sabia o que dizer. Sentiu uma espécie de alívio, mas também um nervosismo sobre a viagem para o desconhecido. O que iria encontrar? Deveria percorrer o caminho? Talvez isto fosse apenas um sonho sem pés nem cabeça. O que era verdade, em tudo isto?
- O que tens à tua frente agora é real, Michael Thomas de Intenção Pura, - disse o anjo que novamente tinha lido as emoções de Mike. - Retornarás para uma realidade temporária, construída apenas para os Humanos fazerem a sua aprendizagem.
Bastava que Michael tivesse uma dúvida, e o anjo logo a esclarecia. Mais uma vez sentiu que, de alguma forma, estava a ser violentado por este novo meio de comunicação, embora, ao mesmo tempo, estivesse a ser dignificado! «Num sonho - pensou Mike - estás em contacto com a tua mente. Portando, não pode haver segredos de ti para ti mesmo.» Talvez por isso fosse correcto manter a conversa com esta entidade que sabia o que ele estava a pensar. Além disso, Mike estava a experimentar exactamente o que o anjo dissera.
Começava a sentir-se confortável nesta «realidade onírica», e não lhe apetecia nada voltar para nada menor do que isto.
- E agora? - perguntou Mike hesitantemente.
- Já manifestaste a tua intenção de percorrer o caminho. Então, agora, vais regressar para o teu estado de consciência humano. Entretanto, há que destacar alguns pontos: as coisas não serão sempre como parecem, Michael. À medida que fores progredindo, estarás mais perto da realidade que estás a experimentar agora comigo. Portanto, é provável que tenhas de desenvolver uma nova maneira de ser – talvez um pouco mais...
- O anjo fez uma pausa - mais no presente do que costumavas estar, enquanto te aproximas da porta da Casa.
Mike não entendeu o que o anjo estava a dizer mas, mesmo assim, ouviu atentamente.
O anjo continuou.
- Existe outra pergunta que devo fazer-te já, Michael Thomas de Intenção Pura.
- Estou pronto - respondeu Mike, sentindo-se pouco seguro de si, mas honestamente pronto para seguir em frente.
- Qual é a pergunta?
O anjo moveu-se para mais perto dos pés da cama e disse:
- Michael Thomas de Intenção Pura, amas Deus?
Mike estava perplexo com a pergunta. «É claro que amo», pensou. Porquê esta pergunta?... E respondeu:
Se podes ver o meu coração e conheces os meus sentimentos, deves saber que amo a Deus.
Fez-se um silêncio… e pareceu-lhe que o anjo estava satisfeito.
- Claro que sim!
Foi a última frase que Mike ouviu dos indistintos lábios desta maravilhosa criatura que, obviamente, o amava muito. O anjo chegou perto de Mike e moveu a sua mão de tal modo que atravessou a sua garganta.
Como conseguia ele fazer isto? Imediatamente sentiu como se centenas de pirilampos tivessem voado para o seu pescoço e estivessem a alterar a sua personalidade. Não sentiu qualquer dor, mas, subitamente, vomitou.

A História de Michael Thomas e os Sete Anjos I

CAPÍTULO I

1 - Michael Thomas
Pedaços de acrílico preto voaram em todas as direcções enquanto Mike empurrava, com força demais, a caixa de «entrada de papéis» contra a parede do cubículo que era o seu escritório de vendas. Este era outro exemplo de um objecto inanimado que estava a suportar o impacto da raiva crescente de Mike perante a situaçãoem que vivia. De repente, uma cabeça levantou-se acima da planta artificial, empoeirada, à sua esquerda.
- «Está tudo bem por aí? - perguntou John do cubículo anexo.
As paredes de cada cubículo eram altas apenas o suficiente para permitir que cada pessoa achasse que tinhao seu próprio escritório. Mike colocara diversos objectos altos na sua escrivaninha, para iludir o facto de os seus colegas de trabalho estarem, permanentemente, a apenas um metro e meio de distância – todos eles fingindo estar sozinhos no seu «espaço», e tendo conversas «particulares».
O brilho da luz fluorescente, vinda do tecto acima dos cubículos, banhava Mike e os colegas com aquele tipo de falsa iluminação encontrada apenas em empresas e indústrias. Parecia absorver o vermelho do espectro visual, tornando todos pálidos… apesar de viverem na ensolarada Califórnia. Ter passado anos sem apanhar sol fazia com que Mike parecesse ainda mais pálido. «Nada que uma viagem às Bahamas não cure», respondeu Mike sem olhar para a planta, através da qual a cabeça de John tentava aparecer. John encolheu os ombros e voltou à sua conversa ao telefone.
Mesmo que as palavras tenham escapado dos seus lábios, Mike sabia que nunca iria às Bahamas, ganhando o salário de um vendedor a trabalhar nas «minas de carvão», como os empregados chamavam à fábrica para a qual trabalhavam. Mike começou a recolher os pedaços da bandeja de acrílico que tinha estilhaçado e suspirou – uma coisa que estava a fazer muito, ultimamente. Estava ali com que objectivo? Por que não sentia energia ou incentivo para melhorar a sua vida? O seu olhar parou no ursinho de pelúcia que oferecera a si próprio, e que dizia: «Abraça-me.» Ao lado do ursinho estava uma tira da sua banda desenhada preferida que mostrava o «pássaro azul da felicidade»: Mas, bem pelo contrário, ele estava a ter que lidar com a «galinha da depressão!»
Não importando quantas caras sorridentes ou desenhos ele pregasse nas paredes do seu cubículo, Mike continuava a sentir-se bloqueado. Estava a levar uma existência parecida com o trabalho da máquina de fotocópias do escritório: todo dia duplicando tudo, sem nenhum propósito. A frustração e a impotência que sentia deixavam-no com raiva e deprimido, e os sinais começavam a aparecer. O seu supervisor já tinha reparado nisso.

Michael Thomas tinha trinta e poucos anos. Tal como várias outras pessoas no escritório, «fazia o que era preciso para sobreviver». Aquele era o único emprego que encontrara onde não tinha de se preocupar muito com o que fazia. Podia, simplesmente, desligar-se durante oito horas por dia, voltar para casa, dormir, tentar pagar as contas pendentes durante fim-de-semana, e regressar ao trabalho às segundas. Mike apercebeu-se que só sabia o nome de quatro pessoas entre as trinta que trabalhavam naquele escritório de Los Angeles.
Não se importava com isso, e assim ficou cerca de um ano - desde o momento em que ocorrera aquele problemaemocional que lhe ferira o coração para sempre. Nunca tinha compartilhado essas memórias com ninguém, mas elas invadiam a sua cabeça quase todas as noites.
Mike vivia sozinho, se exceptuarmos o seu solitário peixe. Sempre quis ter um gato, mas o senhorio não permitia. Sabia estar no papel da «vítima», mas, como a sua auto-estima estava sempre em baixa, continuava a «massajar a ferida» em que se tornara a sua vida – mantendo-a intencionalmente aberta e sangrandopara se poder amparar nela. Não tinha mais nada que pudesse fazer, e sabia que não dispunha da energiapara mudar as coisas, mesmo se quisesse. Deu o nome de Gato ao peixe só por brincadeira, e conversava com ele sempre que chegava em casa ou antes de sair para o trabalho.
- Mantém a fé, Gato. – dizia Mike para o seu amigo, quando saída.
É claro que o peixe nunca respondeu.
Com cerca de um metro e noventa de altura, Mike metia respeito. Por isso sorria. O seu sorriso largo tinha um charme que dissolvia todos os pré-julgamentos que alguém pudesse fazer, com base na sua estatura. Não foi por acaso que se viu a trabalhar pelo telefone, onde os clientes não pudessem vê-lo. Era uma forma de negar propositadamente o seu melhor atributo – quase uma prisão auto-imposta, permitindo que mergulhasse no melodrama da sua situação actual. Mike sobressaía devido às suas habilidades pessoais, mas raramente as usava, a não ser quando era necessário por questões de trabalho. Não cultivava amigos por opção e, no actual estado de ânimo, o sexo oposto nem existia para ele – apesar de que as mulheres decerto teriam gostado dele. Os seus colegas de trabalho diziam:
«Mike, quando foi a última vez que tiveste uma namorada? Precisas de sair e encontrar uma boa moça. Muda essa mentalidade!» Depois, todos eles voltavam para as suas casas, para as suas famílias, cachorros e filhos adoráveis – e um ou outro também teriaum peixe. Mas Mike não conseguia imaginar como poderia começar o processo de reconstruir a sua vida
amorosa perdida. Decidiu que não valia a pena. Dizia para si mesmo:
- Encontrei a minha metade muito cedo, só que ela não sabia disso.
Nessa altura, estava muito apaixonado, sentindo todas as expectativas que vêm com o amor. Ela, por outro lado, estava apenas a divertir-se. Quando, finalmente, isso se tornou óbvio, foi como se todo futuro de Mike tivesse murchado e desaparecido. Ele amara-a com uma paixão singular, que, segundo acreditava, sentiria apenas uma vez na vida. Gastara todo o seu amor com ela… e ela tinha-o rejeitado!
Criado pelos pais numa fazenda na pequena cidade de Blue Earth, no Minessota, Mike tinha escapado de uma situação que considerava sem saída: cultivar produtos que, ou eram comprados por países estrangeiros ou armazenados indefinidamente em silos enormes, devido à superprodução. Desde muito cedo descobriu que a vida de fazendeiro não era para ele. Nem mesmo o seu país parecia valorizar essa profissão. Que vantagem teria? Acresce que não podia aguentar o cheiro de tudo o que o rodeava. Queria trabalhar com pessoas em vez de com animais e tractores. Tinha sido um bom aluno, e era absolutamente o melhor em qualquer coisa que envolvesse interacção com outras pessoas. Acabar por trabalhar em vendas era uma coisa
natural para ele. Não teve, por isso, qualquer problema em encontrar um emprego como vendedor de uma série de produtos e serviços, que podia representar com honestidade. As pessoas adoravam comprar coisas a Michael Thomas.
Olhando para o passado, para o que os seus pais, agora mortos, tinham deixado, apercebeu-se de que uma coisa ficara arreigada nele: a sua crença em Deus. «Grande coisa, esse sentimento agora», pensava amargamente. Mike era filho único. Os pais – seus amados mãe e pai – tinham morrido num acidente de viação alguns dias antes do seu 21º aniversário. Continuava a chorar a sua perda e mantinha à vista as suas fotos para se lembrar de como tinham vivido… e de como tinham morrido. Apesar de tudo, continuava a ir à igreja e seguia o culto, ao menos por mera formalidade. Quando o padre o questionava acerca do seu estado espiritual, Mike admitia abertamente a fé e a crença na sua natureza espiritual. Estava certo de que Deus era
justo e amoroso, embora não estivesse muito perto Dele no momento – pelo menos nos últimos anos, para dizer a verdade. Mike rezava sempre por uma situação melhor, mas tinha pouca esperança de que as coisas realmente mudassem.
Mike não era propriamente bonito, mas era bastante atractivo, pois herdara a postura altiva do pai. As mulheres achavam-no irresistível. O seu sorriso cintilante, o cabelo louro, o porte esbelto, o queixo quadrado e os profundos olhos azuis eram cativantes. Quem tivesse intuição apercebia-se que Mike era um homem íntegro.
Por isso, confiavam nele imediatamente. Dispusera de diversas oportunidades para beneficiar indevidamente de várias situações – tanto nos negócios, quanto no romance – mas nunca se aproveitou disso. Mike era um produto da consciência firme dos fazendeiros – um dos únicos atributos valiosos que trouxe da sua infância, passada na sua fria cidade natal.
Era incapaz de mentir e entendia intuitivamente quando outros precisavam de ajuda. Abria as portas para as outras pessoas ao entrar e ao sair do supermercado, respeitava e conversava com os mais velhos, e sempre dava aos pedintes, fossem homens ou mulheres, a moeda que eles pediam, mesmo que suspeitasse que poderia ser gasta em bebidas.
Sentia que todos deveriam trabalhar em conjunto para melhorar as coisas. Nunca entendeu por que razão, na cidade que tinha adoptado, as pessoas não conversavam nem se encontravam com os vizinhos. Talvez não precisassem de ajuda por causa do excelente clima. «Que irónico», pensou.
O seu único modelo feminino de mulher era a mãe; portanto, tratava as mulheres com o tipo de respeito que tinha aprendido com aquela mulher, sensível e maravilhosa, de quem tanto sentia a falta. Parte da sua tristeza, agora, derivava do sentimento de ter sido traído no único relacionamento «real» que tivera. Mas, na verdade, a experiência de Mike fora apenas o resultado de um choque cultural: o que era esperado por uma pessoa não foi concedido, e vice-versa. A garota da Califórnia, que tinha destroçado o seu coração, estava apenas a seguir o que acreditava ser a sua verdade acerca do amor. Porém, Mike não via as coisas assim.
Recebera outro tipo de educação… e não tolerava opiniões diferentes sobre o amor.
* * *
E é assim que a nossa história realmente começa.
Ali estava Michael Thomas com a sua auto-estima em baixa, regressando a casa numa noite de sexta-feira, pronto para se recolher no seu apartamento, uma espécie de estúdio de duas assoalhadas (casa de banho incluída!). Parou na mercearia para comprar alguns suprimentos de que precisava para sobreviver nos próximos dias. Há muito tempo descobrira que podia fazer render o dinheiro se comprasse as marcas genéricas e usasse sabiamente os vales de compras. Mas, qual era a sua verdadeira chave para a frugalidade?... Não comer muito!
Comprava comida enlatada, que não precisava de ser cozinhada. Assim, prescindia do fogão ou evitava pagar muito pelo consumo de energia eléctrica. Esta prática deixava-o desnutrido, com fome, e sem sobremesa…o que servia muito bem ao seu propósito de se sentir como uma vítima. Além disso, descobriu que, se comesse todos os alimentos directamente da embalagem, junto do lava-loiça, não precisava de lavar qualquer prato… coisa que detestava. E gabava-se como tinha resolvido problema, junto de John, o seu colega de serviço e único amigo. Sabendo dos hábitos de Mike, John comentou, de brincadeira, que Mike não tardaria a encontrar uma forma de não fazer nada – viver até sem apartamento – indo morar no abrigo mais próximo. John riu-se ao dizer isto e deu uma palmada nas costas do amigo. Mike, no entanto… pensou seriamente
em considerar a questão. Quando saiu da mercearia e foi para casa, já estava escuro. Uma neblina espessa ameaçava chuva para todo dia, tornando tudo escorregadio e brilhante à luz artificial dos candeeiros da rua, reflectidos nos degraus da entrada do apartamento. Feliz por viver no sul da Califórnia, Mike sempre se lembrava dos Invernos rigorosos em Minnesota, onde crescera. Durante a juventude, sentira uma paixão pela Califórnia, e jurou a si mesmo que escaparia do castigo daquele clima que toda a gente, simplesmente, aceitava.
E perguntava à mãe:
- Como é possível alguém viver num lugar onde se pode morrer congelado em dez minutos?
A mãe, olhando para ele, limitava-se a sorrir e respondia:
- As famílias ficam onde têm as suas raízes, sabes? Além disso, este lugar é seguro.
Aquele era o sermão de sempre, acerca de como Los Angeles era uma cidade perigosa e de como Minnesota era agradável. Isto só fazia sentido se a pessoa não acrescentasse «morte por congelamento»!
Mike não conseguia convencê-la de que o perigo dos terramotos era como a lotaria: poderia ocorrer durante a sua vida, ou não. Os penosos Invernos em Minnesota, no entanto… todos os anos eram infalíveis – uma ocorrência cíclica que se podia esperar com toda a certeza!
É inútil dizer que Mike saiu da sua cidade natal assim que terminou os estudos secundários, mudando-se para a Califórnia para frequentar a faculdade. Usou as suas capacidades de vendedor para financiar pessoalmente tudo que fez. Agora, porém, desejava ter ficado mais tempo em casa – para estar com a sua mãe e o seu pai durante os anos que antecederam o acidente. Achava que, na sua necessidade de escapar ao frio, se privara do convívio com eles. Por isso se sentia egoísta e infeliz.
Na penumbra, Mike subiu os degraus da frente até ao andar do seu apartamento e procurou as chaves.
Balançou o saco da mercearia e colocou a chave na fechadura. A chave entrou normalmente… mas foi aí, na noite daquela sexta-feira que o «normal» acabou para Michael Thomas. Do outro lado da porta tinha um presente – potencialmente uma parte do destino de Mike – algo que iria mudar a sua vida para sempre.
Devido à moldura deformada da porta, Mike aprendera a usar o peso do corpo para ajudar a abrir a teimosa fechadura do quarto. O resultado era a porta ser aberta sempre à força. Mike tinha aperfeiçoado o método de segurar o saco da mercearia apoiado no quadril, deslizar a chave na fechadura, virando-a e empurrando com o pé ao mesmo tempo. Esta manobra exigia um certo balanço dos quadris e, embora desse resultado, John tinha comentado que era algo muito estranho de se ver!
A obstinada porta abriu com o impacto dos quadris de Mike, assustando ladrão que estava dentro do quarto às escuras. Com a rapidez de um gato e anos de experiência de lidar com o inesperado, o estranho, um palmo mais baixo do que Mike, atirou-se instantaneamente para frente, agarrou-lhe o braço e puxou-o para dentro da sala. Como a inusitada forma de abrir a porta já o desequilibrava naturalmente, foi fácil para o ladrão derrubá-lo, apesar da desvantagem física. As compras foram atiradas com tanta força contra a parede oposta que as tampas das embalagens abriram-se. Antes de alcançar o chão, Mike, surpreendido e com todos os sinais de alarme a soar no seu corpo, ouviu a porta a fechar-se atrás de si… ficando o ladrão do lado
de dentro! De relance, reparou que a sua cara iria direito a um pedaço de vidro partido, resultado da janela estilhaçada por onde entrara o pequeno homem.
Este é um daqueles momentos que ficam gravados na mente, como se o tempo parasse ou andasse lentamente.
Mas tal não foi o caso de Michael Thomas: os segundos voaram num tempo compacto, enevoado,
criando um grande pânico. O homem que arrombara o apartamento estava determinado em continuar a sua busca e remover o aparelho de TV e o estéreo, certamente não se importando com o que aconteceria com a sua vítima. Portanto, assim que Mike caiu no chão, o ladrão, com as mãos suadas, já estava em cima dele.
Parecia que um torno lhe apertava o pescoço. Os seus grandes olhos estavam somente a alguns centímetros dos de Mike… que podia sentir e cheirar o hálito quente e pesado do ladrão no seu rosto, e o peso dos quadris no seu estômago. Reagiu instintivamente, como qualquer outra pessoa que estivesse para morrer, e tentouum golpe que podemos ver em qualquer filme de segunda classe. Apesar da sua desorientação, atirou a cabeça para frente com toda a força contra a do ladrão. Funcionou. O assaltante, surpreso com a força do movimento, relaxou um pouco as mãos o que permitiu que Mike rolasse rapidamente para o lado e tentasse levantar-se. Antes de se equilibrar, no entanto, o ladrão atacou novamente. Desta vez aplicou um forte soco no estômago de Mike, que foi praticamente atirado para cima com o impacto, indo cair de costas sobre a sua esquerda e bater brutalmente contra algo grande, que vagamente lhe pareceu ser o aquário. Com um barulho terrível, o móvel, o aquário e o solitário peixe misturaram-se com as compras, no chão da pequena sala.
Mike sentia muitas dores e estava sem fôlego. Ainda arfava – tinha os pulmões em fogo pela falta de oxigénio– quando, com olhos esbugalhados, viu uma bota - que parecia maior que o estado de Montana - vir na sua direcção. O assaltante, agora, estava a sorrir.
Aconteceu muito depressa: a bota achou o alvo e Mike sentiu e ouviu os ossos da garganta e do pescoço fazerem um barulho horrível. Engasgou-se com horror, sabendo que a passagem de ar estava danificada, e até, talvez, a coluna vertebral. Todo o corpo reagia ao estalar e pulsar do pescoço mutilado. Entrou em choque ao sentir a realidade da situação. Era isso: a morte estava perto! Tentou gritar, mas a voz não saía. Mike não conseguia respirar, e a visão escureceu. Tudo ficou quieto. O ladrão apressava-se a concluir a sua noite de trabalho, não se preocupando com o homem imóvel no chão, quando foi novamente surpreendido por alguém que batia freneticamente na malvada porta do apartamento.
- O que está a acontecer aí?... Está tudo em ordem? - perguntava um vizinho.
O ladrão praguejou pela falta de sorte e dirigiu-se rapidamente em direcção à janela partida. Para desimpedir a saída retirou alguns cacos de vidro que ainda restavam e saltou para fora do prédio.
O vizinho de Mike, que, na verdade, nunca se encontrara com ele, ouviu o som de mais vidro a partir-se e decidiu virar a maçaneta da porta. Por estar destrancada, entrou. Encontrou o apartamento todo revirado, e um homem a fugir pela janela partida. Movendo-se cautelosamente no escuro para evitar a TV e o estéreo estranhamente colocados no meio da sala, o vizinho acendeu a luz de uma simples lâmpada pendurada no
tecto.
- Oh meu Deus! – ouviu-se a dizer com a voz embargada pela comoção.
Num segundo, já estava ao telefone a pedir ajuda. Um Michael Thomas seriamente ferido e inconsciente estava deitado no chão. Na sala reinava o sossego, agora. O único som era o barulho do peixe a debater-se, perto da cabeça de Mike. Gato contorcia-se entre os legumes e o monte de comida pré-cozinhada – uma mistura repugnante que começava a ficar vermelha ao misturar-se com o sangue que escorria dos ferimentos de Mike.

LIVRO 5 A viagem para Casa


A História de Michael Thomas e os Sete Anjos
Lee Carroll

A história de michel Thomas é uma parábola lindíssima. colocarei os capítulos em posts separados para melhor apreciação.

INTRODUÇÃO

No dia 8 de Dezembro de 1996, Kryon sentou-se diante de mais de 500 pessoas em Laguna Hills, Califórnia, durante o encerramento de um seminário. Numa sessão para contar histórias, que durou cerca de umahora, a caminho de Michael Thomas foi apresentada – um caminho nascido do desejo de um Ser Humano,cansado da Terra, se juntar à sua família espiritual e retornar para o Lar.

O próprio nome Michael Thomas representa os atributos sagrados e incríveis do Arcanjo Miguel (Michael) e as velhas energias de São Tomé (Thomas), o Incrédulo. Esta combinação representa muito do que nós sentimos como seres espirituais, embora sempre duvidando da nossa capacidade para nos movermos para a frente em direcção a um novo milénio, que apresenta novas demandas espirituais de crescimento e desafiosameaçadores.

A caminho de Michael para o Lar revela-nos, aos poucos, uma aventura através de sete Casas coloridas,cada uma ocupada por um Grande Anjo. Cada Casa representa um atributo da Nova Era, que nela está inserido como sabedoria, ensinamento, bom humor e uma visão interior daquilo que Deus quer que saibamos sobre nós mesmos. Ganhamos, também, uma visão da maneira como as coisas funcionam enquanto nos movemos através do novo paradigma da Nova Era.
Avançando para um movimentado e surpreendente final, a caminho de Michael Thomas revela aos homens uma mensagem cheia de instruções de amor, vindas de uma fonte espiritual que frequentemente deseja «lavar os nossos pés».

Se você alguma vez já perguntou a Deus: «O que desejas que eu saiba?» – A resposta talvez seja o que está aqui!
Junte-se a Michael Thomas na sua excitante caminhada. Pode ser que ela o leve a lembrar-se do seu próprio caminho.
Dedicado àqueles que compreenderam
que os homens têm o poder de mudar as suas vidas,
e que as coisas nem sempre são o que parecem!