"Abençoado seja o Humano que busca Deus à sua própria maneira, ainda que eles estejam em algum prédio, entoando canções ou cultivando doutrinas, que podem ser fabricadas pelo homem.
Na realidade, eles empregam todo o seu coração e a sua compaixão, na busca de Deus.
Que eles não sejam julgados por seus irmãos e irmãs, por este motivo, pois são igualmente amados por Deus."

domingo, 10 de julho de 2011

A História de Michael Thomas e os Sete Anjos V

A Segunda Casa


Não passou muito tempo sem que Mike tivesse notado que se tinha produzido uma mudança na forma do que estava habituado até então. Avançava facilmente pelo caminho e nunca pensou que poderia vir a enfrentar algum tipo de escolha quanto ao caminho a tomar. Alem disso estava perturbado, porque intuitivamente tinha a sensação de estar a ser observado.
Apercebeu-se então claramente que, adiante, se apresentava uma situação problemática: havia uma bifurcação no caminho que o obrigaria a escolher entre dois rumos a seguir para chegar à Casa seguinte. Encolheu os ombros e deteve-se um pouco, observando o que tinha na sua frente. Pensou:
- O que é isto? Como posso conhecer o caminho nesta estranha terra de anjos e Casa coloridas?
Não esperava obter resposta, dado que as perguntas eram retóricas e tinha-as feito a si mesmo; não obstante,preocupava-se. E, naquele preciso momento, recordou-se do mapa.
Sentou-se à beira do caminho. Tinha posto o mapa na mesma bolsa que levava o pão, e estava a pensar tirá-lo quando quase desmaiou com o mau cheiro que vinha do interior da bolsa. Interrogou-se:
O que é que está podre aqui dentro?
Cheirava tão mal que esteve quase a não querer averiguar qual era a causa de semelhante pestilência.
Como, indiscutivelmente, era um odor orgânico, deduziu que se trata do pão; e não se enganou. Com cuidado, pegou no mapa, tratou-o com o cuidado adequado de um precioso presente, e com a esperança de que o mau cheiro não tivesse danificado aquele objecto sagrado mas aparentemente inútil. O mapa estava inteiro, mas o pão e os bolos não. Despejou todo o conteúdo da mochila no chão e estremeceu com o que viu.
Ali estavam as sobras do pão e dos bolos, completamente podres, como se tivessem sido expostas às intempéries
de uma chuvosa selva tropical. Os pútridos restos estavam cobertos de bolor. Foi então que descobriu os primeiros e únicos insectos nesta terra estranha. E havia-os aos milhares! Parecia um criador de minhocas. Mike deixou cair a bolsa e levantou-se num salto. «O pão não apodrece!», pensou. «E aqui não há carne morta! Como é possível?» Além disso, só tinha deixado a Casa Azul há tão poucas horas. Nem sequer a carne se podia decompor de forma tão contundente. O que está acontecendo ali?
Tapando o nariz, aproximou-se para observar com mais atenção. No chão, a massa negra fervia de minhocas e continuava a degradar-se perante o seu olhar. Observou como as pequenas e repugnantes criaturas devoravam os restos da asquerosa massa decomposta. E assim aconteceu com a totalidade dos restos! Perante o espectáculo, o estômago de Mike revolveu-se e virou a cabeça, para evitar tão repugnante visão.
Nesse momento, chamou-lhe atenção algo que estava atrás de si.
«Sim, há algo ali!». Sabia que, anteriormente, tinha visto algo verde e confuso que desaparecia da sua vista e se camuflava entre a vegetação. Mike sentiu calafrios que lhe percorreram a coluna de alto a baixo. Intuitivamente, tomou consciência do perigo a que se expunha se fosse observar o que era aquilo, de forma que ficou quieto. Uma bifurcação do caminho? Um animal ou criatura ou o que quer que fosse que estava a segui-lo? O que estava a acontecer neste lugar sagrado? O que tinha acontecido ao pão?
Mike voltou-se para ver de novo a abominável asquerosidade que estava no caminho, e então apercebeu- se de que estava a ver um monte de pó! Já não havia minhocas, nem pão, nem mau cheiro. Tudo tinha voltado regressivamente às suas origens básicas, e o suave vento que soprava estava começando a dispersar esse pó.
O que significava tudo aquilo? Mike lembrou-se que o anjo o tinha advertido para não guardar nenhum alimento. Mas jamais imaginara que isso também se aplicava a um pequeno lanche para o caminho! Seria possível que o que os produtos que havia nas Casas fossem de alguma forma diferentes e não pudessem conservar-se durante o caminho? Olhou então para o mapa com preocupação e cuidado com medo de tocar nalguma minhoca que tivesse ficado agarrada. Mas o mapa estava limpo, tal como o tinha guardado na bolsa.
E não conseguia entender como não se manchara por ter estado junto da comida. Então decidiu fazer outra prova: pegou na bolsa olhou e, com algum receio, cheirou-a. Não restava nada da horrível pestilência que lhe tinha agredido o olfacto há minutos atrás. Mike não tinha a menor ideia do que acontecera, mas aprendeuuma valiosa lição: durante a sua viagem, jamais voltaria a levar comida de nenhuma Casa.
De novo, viu que algo se movia atrás de si! Os alarmes começaram a tocar na sua cabeça. Põe-te em marcha!
Mike sentiu-se desesperado e, instintivamente, desenrolou o mapa com a esperança de encontrar uma pista para o caminho a seguir na bifurcação. No mapa, lá estava outra vez o ponto vermelho com a inscrição «Estás aqui!», mostrando simplesmente a sua posição actual, e nada mais. A bifurcação nem sequer aparecia no inútil objecto!
- Maldição! – exclamou, em voz alta. Evidentemente, este impropério estava completamente deslocado nesta terra, mas reflectia a frustração que sentia.
- Que raio de mapa me deste, Azul!
Uma vez mais, Mike detectou movimento atrás de si. Essa coisa, ou o que quer que fosse, estava a aproximar-se? Porque não podia vê-la? Como se movia tão rapidamente? O que era? E como, nesse momento, os sensores de alarme do cérebro de Mike assinalavam «Alarme de Pânico», levantou-se num salto e começou adirigir-se para a bifurcação, vigiando por cima do ombro. Mas a fugaz sombra não deu sinais de vida. Comopodia ela saber com tal exactidão o momento em que Mike olhava por cima do ombro? Cada vez que o fazia, Mike acelerava o passo e avançava a grande velocidade. A presença que o perseguia sempre acompanhava oseu ritmo. Cobriu os trezentos metros que o separavam da bifurcação com uma velocidade maior do que a
que tinha desenvolvido desde o início da viagem por esta enigmática terra. Sentia-se aterrorizado.Deste modo, chegou rapidamente à bifurcação, cansado, devido tanto ao esforço para manter o passo rápido como ao seu próprio medo. Chegou ao cruzamento dos caminhos sem nenhum indício sobre que direcçãotomar, sentindo-se muito perturbado pela indecisão. Parou na encruzilhada, cheio de pânico, e gritou desesperado para as nuvens.
- Azul! Que caminho tomo?
Como, na realidade, Mike não esperava que Azul respondesse, ficou emocionado quando a suave voz que parecia emanar de sua cabeça lhe respondeu:
- Rápido Michael usa o mapa!
Mike não estava com disposição para questionar se a pergunta era certa ou não, pelo que repetiu exactamente a mesma acção anterior: desenrolou o mapa tão rápido quanto pode e o ponto vermelho dizia «Estás aqui» indicava o mesmo lugar no centro do mapa. Mas... Um momento! O que era aquilo que estava ali?
Mike examinou com mais detalhe, e varias gotas de suores caíram sobre o pergaminho.
O ponto mostrava agora a bifurcação! Dado que, naquele preciso momento se encontrava na encruzilhada, o mapa mostrava essa actualização. A mente de Mike não se deteve para captar o humor que havia no significado que o anjo dera à palavra. Todavia examinou o mapa e, desta vez, viu que, junto da encruzilhada, uma seta assinalava claramente direita!
Mike nem vacilou, enrolou o mapa e tomou o caminho da direita, que subia por uma pequena colina. Continuou pela retaguarda, olhando para atrás com frequência, porque percebia, sabia, que o seu perseguidor estava por ali escondido. A indefinida figura verde saltava rapidamente de rochas a arbustos, e acertava o passo com o de Mike, acelerando quando este acelerava. Mike respirou aliviado quando chegou ao alto da colina, porque avistou uma Casa. Sentiu que a salvação estava ao alcance da sua mão. Sem deixar de prestar atenção ao que o seguia, acelerou o passo e desceu a correr o caminho que o levava ao lugar onde sabia
que encontraria segurança, refúgio e comida. O ente vil e sinistro, que perseguia Mike, estava furioso! Se Mike tivesse hesitado um pouco mais, Aquilo tinha-o apanhado! Estava furioso porque tinha desperdiçado uma boa oportunidade, e deixou-se ficar entre as copas das árvores que rodeavam a Casa onde Mike acabava de entrar, que era cor de laranja brilhante.
Parado ali, o repugnante ser dispôs-se a esperar pacientemente. Seria uma longa espera, mas isso não incomodava Aquilo.
O anjo esperava Mike no interior da Casa, mesmo à entrada. Mike quase se emocionou quando Laranja – tal como decidiu chamar-lhe – lhe falou pela primeira vez.
- Bem-vindo, Michael Thomas de Propósito Puro! Estávamos à tua espera.
- Também eu te dou as boas-vindas! - respondeu Michael embora com voz trémula, mas com a esperança de não denunciar o alívio e a falta de fôlego que estava a sentir. Conteve a vontade de abraçar a enorme ser laranja que estava na sua frente, e sentiu-se muito contente por estar novamente protegido.
- Vem comigo – pediu o anfitrião laranja, enquanto o conduzia ao interior da «Casa dos Dons e dos Instrumentos ». Mike certificou-se que a porta tinha sido fechada e seguiu o anjo. Mas ainda a tremer e assustado com a experiência que acabara de viver momentos antes. Continuava com medo e fazia a si próprio muitas perguntas sobre esta terra de assombrosos contrastes.
O anjo era esplendoroso como os seus antecessores. Uma vez mais, Mike ficou impressionado com a sua elevada estatura e grande bondade. Esta entidade fazia com que se sentisse querido e acolhido, tal como acontecera com todas as outras que tinha encontrado até agora. «Pergunto-me se todos são feitos do mesmo », reflectiu.
- Na realidade, todos somos da mesma família – comentou o anjo.
Mike sentiu-se mortificado por ter esquecido tão rapidamente como funcionava a comunicação com essas criaturas espirituais. Só pôde dizer: «Lamento». Laranja virou-se, parou e abanou a cabeça de uma maneira engraçada, enquanto Mike observava o seu rosto.
- Lamentas? – o anjo fez uma pausa e acrescentou -: Porquê? Por honrares a minha magnificência? Por te sentires amado? Por perguntares quem somos? – O anjo sorriu – Costumamos ter muitos hóspedes, Michael Thomas. De todos os que visitaram esta segunda Casa, tu és, até agora, aquele que fez o menor número de perguntas.
- O dia ainda é uma criança - disse Mike suspirando. Queria interrogar o anjo sobre o medo e o posterior pânico que tinha acabado de sentido, antes de chegar à Casa. Quem estava segui-lo? Mas o anjo sabia que ele formularia essa pergunta.
- Não posso dizer-te o que desejas saber, Michael – respondeu o anjo.
- Não podes ou não queres? – perguntou Mike respeitosamente. Sabia que a pergunta era retórica e prosseguiu - : Sei que sabes a resposta. – Mike duvidou e então pô-lo à prova bombardeando-o com uma série de perguntas: Porque não podes falar-me acerca disso?
- Tu sabes mais a esse respeito do que eu - respondeu o anjo.
- Como é isso?
- Aqui, as coisas nem sempre são o que parecem.
- Estará lá fora quando eu sair?
- Sim.
– Isso é daqui? Parece estar deslocado neste ambiente espiritual.
-Tem o mesmo direito que tu de estar aqui.
- Pode fazer-me mal?
- Sim.
- Posso defender-me?
-Sim
- Ajudas-me?
- Para isso estou aqui. – O anjo permaneceu em silêncio quando Michael interrompeu subitamente seu interrogatório.
As respostas de Laranja confirmaram que o anjo sabia tudo. Então, Mike começou a relaxar. «Se ele sabe estas coisas, então, potencialmente, há mais coisas que eu posso vir a saber. Serei paciente, porque estou certo de que tudo isso me será revelado à medida que for avançando. Parece que é assim que as coisas funcionam aqui.» De repente. Michael lembrou-se que ainda nem tinha passado uma hora desde que julgara o mapa como um objecto inútil, e como ele o tinha salvo no preciso momento em que mais precisara.
- Deus é muito actual, sabes? – disse o anjo quase a rir. Uma vez mais, tinha sintonizado com os pensamentos de Michael Thomas.
O ser alaranjado deu meia volta e começou a conduzi-lo pelas zonas interiores da Casa. Mike seguiu-o.
- Estou começando a acostumar-me a isso - comentou Mike enquanto caminhava –. Acaso se trata de obter o que é preciso justamente no momento em que se necessita?
- Algo assim – respondeu o anjo -. O enquadramento temporal humano de menor vibração é linear, Michael, mas o tempo dos anjos não é.
Obviamente, este anjo era outro mestre.
- Então, como é que vocês percebem o tempo?
Enquanto iam conversando, o anjo ia conduzindo-o através de um armazém. Um armazém? Tal como na Casa anterior, a área interior desta era enorme. Mike ficou boquiaberto ao observar dezenas de fileiras de caixas empilhadas dentro de um espaço cujo tecto devia ter uns quinze metros de altura.
- Nós não temos passado nem futuro – respondeu o anjo –. O teu conceito de tempo desenvolve-se em linha recta, e o nosso é uma plataforma giratória que se move no sentido dos ponteiros do relógio com o mecanismo em repouso. Nós conseguimos ver permanentemente toda a extensão do nosso tempo, porque está sempre debaixo de nós, pelo que nos encontramos sempre no «agora» do nosso tempo. Sempre nos movemos em volta de um centro conhecido. Dado que o desenrolar do vosso tempo é recto, e invariavelmente se movimentam para a frente, nunca chegam a experimentar plenamente o presente. Olham para trás e sabem
onde estiveram; olham para a frente e sabem para onde vão. Mas não vos é permitido experimentar um tipo de existência de ser. Pelo contrário experimentam uma existência de fazer. Faz parte da vossa vibração inferior, e está correcto para a vossa dimensão.
- Este argumento poderia explicar como funciona o vosso mapa – disse Mike, recordando que o ponto vermelho com a frase «Estás aqui» estava sempre no centro, e que os acontecimentos da sua nova existência pareciam entrar e sair de um ponto concreto. Mike pensou para si: «É exactamente o contrário de como funciona um mapa humano.»
- Exacto! – disse Laranja por cima do ombro enquanto continuava a andar -. Na vossa estrutura do tempo, o mapa é conhecido e é o ser humano que se move. Isto deve-se ao facto de perceberem o tempo e a realidade como uma constante, e o humano como a variável. Quando se aproximam da nossa estrutura temporal e da nossa vibração, o ser humano é a constante e o mapa (a realidade) variável.
Certamente, Mike tinha de reflectir sobre isto. Era difícil de entender mas, de certa maneira, era familiar. A experiência vivida na bifurcação perto da Casa Laranja tinha mostrado o exacto valor do mapa espiritual, embora fosse diferente de tudo o que ele poderia esperar. Sabia que a próxima vez que tivesse diante de si uma situação do mesmo tipo não se preocuparia até se encontrar verdadeiramente na bifurcação - então, o mapa funcionaria.
Tal como Azul, Laranja conduziu Mike através de muitas zonas de grande beleza e ornamentação, percorrendo o caminho para a área de hóspedes, alimentação e descanso. No entanto, esta esplêndida Casa continha caixas de armazém identificadas, em vez dos pequenos compartimentos da Casa dos Mapas. Também aqui os nomes estavam escritos com os mesmos estranhos caracteres de aparência árabe, ininteligíveis para
Mike. Mas deduziu, acertadamente, que em algum ponto da sala estaria uma caixa com o seu nome escrito e que, em breve, daria com ela.
- Estes são teus aposentos – disse Laranja -. Começaremos amanhã – As tuas refeições serão servidas na sala da esquerda, e podes fazer a higiene na da direita. Agora espera-te a refeição que preparámos para ti.
Dito isto, Laranja abandonou os aposentos de Mike, fechando a porta. Mike observou a porta fechada, e pensou para si: «Poderás ser um anjo, mas os teus modos deixam muito a desejar.» O anjo nem sequer tinha feito um gesto de despedida. «Suponho que não posso esperar que eles compreendam a fundo a natureza humana.
Tal como na outra Casa, Mike comeu como um príncipe. Praticamente devorou a deliciosa comida, e ficou boquiaberto ao ver a grande beleza artesanal dos utensílios de madeira. Sentia-se pouco à vontade por deixar os pratos sujos para que outros os lavassem, enquanto recordava o quanto odiava esta tarefa. Sabia que, embora não pudesse vê-los, devia haver outros seres que se encarregavam desses serviços. «Que combinação mais estranha!», observou. «Um lugar angélico, mas que também tem de atender aqueles que estão
numa vibração humana mais baixa que a sua.» Mike começou a questionar-se sobre o sistema de esgotos... e ficou atónito ao descobrir algo surpreendente:
Há vários dias que não ia ao lavabo! Nem sequer havia um lavabo! A Casa tinha zonas para tomar banho, mas nada de sanitas. Apercebeu-se de que, a partir do momento em que passara pelo umbral da porta que iniciava o caminho, não tinha experimentado a «chamada da natureza»! Algo estava a ocorrer no seu corpo nesta terra cheia de surpresas. Não se preocupava com o sistema de eliminação... mas era, certamente, uma sensação estranha.

* * *

Na manhã seguinte, Mike sentiu-se cheio de energia. Pequeno-almoço fruta fresca e diversos pães, saboreando o incrível sabor dos magníficos alimentos. Examinou a comida angélica e percebeu que era um tanto diferente, por isso pensou que devia interrogar Laranja sobre esse assunto.
- Esta é a nossa estrutura temporal – disse Laranja alegremente desde a porta da sala. O anjo acabava de chegar e tinha captado os pensamentos de Mike. E continuou a explicar -: Esta comida não pode existir na vibração mais baixa e contém atributos espirituais interdimensional. É por isso que não deixa resíduos no organismo humano, Michael. É também por isso que não pode ser armazenada. Para ela não existem nem o futuro nem o passado. Foi criada momentos antes de a ingerires, e não se conservará se quiseres levá-la daqui.
- Já descobri essa particularidade – disse Mike, recordando a repugnante massa podre no chão do caminho que conduzia à Casa Laranja, quase lhe causara problemas.
O anjo levou-o para fora da zona dos aposentos e encaminhou-o para uma enorme arena circular bem iluminada, onde havia varias caixas abertas e uns quantos bancos alaranjados, distribuídos pelo espaço para que os humanos pudessem sentar-se a descansar. Também havia outras coisas: uma espécie de altar, um pouco de incenso e alguns pacotes de estranha aparência.
- Bem vindo à Casa dos Dons e dos Instrumentos, Michael Thomas de Propósito Puro – disse o anjo olhando para ele -. Por favor, senta-te, porque passaremos aqui um bom bocado.
Este foi o início de uma larga série de sessões de ensinamento. Seguir-se-ia um período ainda maior dedicado a sessões de prática e avaliação acerca do uso dos dons e dos instrumentos numa nova vibração espiritual.
Desta forma, Mike permaneceu mais três semanas na Casa de cor laranja.
- Pouco a pouco, estás a elevar a tua vibração, Michael Thomas – disse Laranja em repetidas ocasiões, durante todo o processo de aprendizagem -. Estes são os dons e os instrumentos que te foram prometidos para te ajudarem a realizar esta tarefa. Pertencem-te devido ao teu propósito. Não poderás entrar nas Casas que se seguem sem saberes como funcionam, e muito menos chegar a Casa sem seres um perito no seu uso.
Mike prestou muita atenção. Sabia que se tratava de uma preparação para regressar ao Lar e lembrou-se que lhe tinham dito que o preparariam para isso. Laranja desenvolveu muitos dons enquanto Michael o observava.
Alguns deles pareciam ser feitos de um cristal extraordinário e, através da cerimónia e consoante o propósito, foram colocados magicamente no corpo de Mike com o fim de complementar o seu poder espiritual.
O anjo deu-lhe explicações muito completas sobre a função de todos e cada um deles, e Mike necessitou um tempo para digerir e compreender o seu significado. Depois, foi-lhe pedido que explicasse a Laranja para que serviam. Isto não era tarefa fácil, pois grande parte das provas requeriam que abordasse conceitos e usasse palavras que eram totalmente novas para Mike.
Laranja falou acerca de os seres humanos chegarem ao planeta trazendo consigo determinadas qualidades, correspondentes a diferentes planos de existência: as vidas passadas. Mike tinha ouvido falar no assunto, mas não estava preparado para o ouvir da boca de um anjo! Para ele, o normal seria ver um guru hindu, de longos cabelos, a tratar do tema, mas não um anjo. Laranja disse que as vidas passadas eram um elemento importante da condição humana e que as instruções provenientes de uma vida passada eram levadas de
uma para a outra como lições de nascimento. Estas lições eram conhecidas como «carma» embora também se denominassem «reminiscências» ou «experiências» O carma permitia a aprendizagem humana e, de certo modo, também ajudava o planeta. Assim funcionavam as coisas para os humanos, vida após vida. Laranja acrescentou ainda que, para aceder a uma nova vibração, tinha de eliminar algumas características antigas, entre as quais estavam essas lições cármicas com que tinha nascido. No caminho do Lar não havia lugar para elas, tal como não havia lugar para a comida podre, tal como descobrira no caminho.
Naquele instante, Mike visualizou-se como um monte de carne podre caído do caminho: alguém que não prestava atenção ao mestre. Mike intensificou pois a sua atenção para não criar essa situação. Que asco!
Laranja captou os pensamentos de Mike e riu-se às gargalhadas, transmitindo-lhe o seu regozijo. Mike ficou perplexo por se sentir tão próximo de Laranja. Era um maravilhoso mestre e um grande companheiro (...embora não soubesse que, por educação, se devia dizer «olá» e «adeus»!).
Mike apreendeu a dar forma a pensamentos que verdadeiramente criavam energia.
- É assim que controlas a realidade – explicou Laranja -. Usa a tua compreensão e os teus sentimentos espirituais para te impulsionar até às situações que mereces e que planeaste.
Mike não fazia a menor ideia do que isso significava, mas seguiu todas as instruções e, pelos vistos, passou todas as provas. O dom do poder espiritual de co-criação foi introduzido no seu ser, assim como o dom para desfazer-se de todos seus atributos cármicos provenientes de encarnações passadas. Cada dom foi celebrado com uma cerimónia e verbalizações, e cada um deles parecia transmutar-se do físico para o espiritual enquanto era absorvido pelo corpo de Mike, tudo isto sobre a direcção do esmerado e grande anjo de cor laranja.
Mike sentiu-se como se estivesse a estudar para algum sacerdócio sagrado! Cada vez que verbalizava o que Laranja lhe ensinara, constatava que o anjo realmente podia ver dentro do seu coração. Laranja podia ser muito intenso. Realmente, quando Mike fez promessas e verbalizou o seu propósito de obter agora este dom, depois este outro, para que lhe fossem implantadas no seu centro de poder espiritual, Laranja parecia ler a sua alma. Ao princípio, a situação foi incómoda para Mike, mas depois apercebeu-se que Laranja somente estava a fazer uma revisão integral do que ele expressava em voz alta. Se Mike tivesse fingido, Laranja teria detectado imediatamente e não teria permitido que continuasse.
Finalmente, depois de um período de duas semanas, todos os pequenos pacotes já tinham sido abertos, explicados e integrados no Eu espiritual de Mike. Entretanto, tinha passado todas as provas, entre as quais havia uma particularmente difícil: Mike tinha medo dos espaços pequenos e fechados; não sabia porquê, mas desde criança sempre sobrevinha um ataque de pânico quando se encontrava confinado a um tal espaço. Um dos dons que Laranja lhe outorgou consistiu no poder de superar essa fobia. Mike expressou a sua intenção e levou a cabo a cerimónia. Laranja explicou que a sensação de pânico que sobrevinha quando estava em
espaços fechados não passava de um resíduo cármico, e que abandoná-lo significava abandonar muitas outras experiências de vidas passadas que trouxera para a sua actual encarnação.
Vários dias depois, durante o período de preparação, abriram uma grande caixa. Em vez de algo saísse lá de dentro, Laranja pediu a Mike, de forma muito carinhosa, que entrasse nela! Quando Mike entrou para dentro da caixa, o anjo fechou a tampa e ele ficou acocorado na escuridão. Ouviu as pancadas inquietantes de cada martelada, enquanto Laranja pregava a tampa. E ali ficou, no meio do silêncio e escuridão.
Mike podia ouvir claramente a sua respiração, estando muito consciente de que estava numa situação extremamente incómoda. Inclusive podia escutar as batidas do coração. Laranja nem sequer lhe deu qualquer explicação: era outra prova em que Mike não podia fingir.
Durante uns dez segundos, o coração de Mike acelerou ao recordar o seu problema. Então, no momento preciso em que todo seu corpo deveria começar a tremer de pânico, a sensação de claustrofobia desvaneceu- se completamente e Mike relaxou. Deu-se conta, com grande satisfação, que o dom tinha funcionado.
Ao princípio o seu corpo reagira como sempre tinha feito antes, mas o seu novo espírito tinha parado a reacção.
A paz invadiu-o, e Mike cantou para si mesmo várias canções. Finalmente, adormeceu. Uma hora mais tarde, o anjo Laranja, encantado, abriu a caixa e deixou Mike sair.
- Foste extraordinário, Michael Thomas de Propósito Puro – disse o angelical ser, sorrindo de orelha a orelha.
Mike pode ver o orgulho reflectido nos olhos de Laranja -. Nem todos conseguem chegar até aqui.
Foi a primeira vez que Mike teve plena consciência de que fazia parte de um grupo de pessoas que também tinham pedido o caminho de regresso a Casa. Este feito já se tinha evidenciado varias vezes, mas até agora, Mike não assimilara o que isso implicava. Durante mais de numa noite reflectiu sobre isso, enquanto Laranja continuava a incorporar-lhe dons e começava as tirar grandes ferramentas. Durante a terceira semana de preparação, Laranja apontou para caixa grande.
- São três os instrumentos que precisas para a tua viagem – enfatizou Laranja. Dito isto, foi até onde estava essa caixa especial e abriu-a. Cada vez que Laranja abria um pacote ou uma caixa, Mike esperava expectante, sentado no seu banco, perguntando-se qual seria o objecto mágico que o ajudaria a aumentar sua sabedoria, o seu conhecimento ou o seu poder espiritual. Mas não estava preparado para ver o que Laranja lhe ia dar.
O anjo estava de costas para Mike, de modo que foi impossível ver o que ele tinha tirado da caixa. Quando o anjo se voltou para mostrar a primeira ferramenta, Mike só conseguiu ver um reflexo prateado. Não. Era incrível. Laranja segurava uma imensa espada!
- Aqui tens a espada da verdade! – exclamou o anjo Laranja, enquanto mostrava a arma a Mike.
Quando o anjo a segurou parecia grande, mas quando a passou para as mãos de Michael deu a impressão de ser enorme. Era pesadíssima e difícil de manejar. Mike não podia crer no que estava a acontecer e, dirigindo- se ao anjo exclamou admirado:
- Esta espada é real!
- Tão real como os outros dons – afirmou Laranja –. E é somente um dos três elementos externos que levarás contigo quando retomares o trajecto para as quatro Casas seguintes.
Michael segurou na espada um pouco enquanto a examinava, admirado com a sua beleza. Sim, o seu nome estava escrito nela, tal como imaginara. A arma estava profusamente adornada com elaborados desenhos em relevo, todos com um grande significado espiritual. A lâmina era comprida, e o punho estava talhado numa pedra de cor azul-cobalto brilhante. Era um objecto magnifico…. e muito afiado!
- Tenta esgrimi-la – pediu o anjo.
Michael assim fez, e a espada quase se movia sozinha! O inesperado poder da arma fez com que Mike saltasse e caísse desamparado para a frente. Sentiu-se estúpido enquanto se levantava para realizar outra tentativa.
Laranja indicou com a mão para desistir.
- Vamos ver se isto te ajuda.
O anjo foi de novo à caixa e tirou de lá outro objecto, que também emitiu um reflexo prateado. Era um enorme escudo! Mike moveu a cabeça com incredulidade. «O que significa isto? É verdadeiramente estranho.
Dons espirituais essas armas de guerra? Estão a preparar-me para uma vida passada em Camelot?»
- Nada é o que parece, Michael Thomas de Propósito Puro. – Laranja colocou-se na sua frente segurando o escudo entre as mãos. Respondendo ao confuso estudante disse: «Experimenta isto.»
Laranja mostrou como colocar o escudo no braço utilizando uma braçadeira, e deu-lhe algumas indicações sobre como equilibrar o peso da espada e o escudo, uma vez que o peso de cada um era complementar do peso do outro. E isto tornava possível movimentar a espada sem cair; portanto era fundamental aprender tudo isto.
- Michael – disse ao anjo - o escudo representa o conhecimento do espírito. Se o juntas com a verdade, o equilíbrio é todo-poderoso! A escuridão não pode existir onde há conhecimento. Os segredos não podem sobreviver na luz, e esta será criada quando a verdade for revelada através do exame do conhecimento. Não existe uma combinação mais poderosa do que esta. E ambos devem usar-se juntos.
- Há mais alguma coisa na caixa? – perguntou jocosamente Mike, cambaleando com o peso do escudo e da espada.
- É estranho que o perguntes! – comentou Laranja, e dirigiu-se de novo à caixa, enquanto Mike o observa incrédulo. O anjo pegou num objecto que era ainda maior do que os outros dois, e também de cor prateada.
- Aqui tens a armadura! – exclamou o anjo Laranja, muito divertido e quase a rir-se ao ver a expressão incrédula de Mike.
- Não entendo! – disse Mike, enquanto se sentava rapidamente no banco -. Como esperas que eu carregue com tudo isto ao mesmo tempo?
- Com a prática – respondeu o anjo -. Olha, deixa-me fazer uma demonstração.
Laranja pegou na espada e no escudo, e ajudou Mike a pôr a armadura, que era pesada e muito ornamentada: uma espécie de vestimenta cerimonial que o cobria e que se adaptava tão bem ao corpo como se tivesse sido moldada para ele. A sua confecção era perfeita! Laranja apertou as fivelas e colocou uma bandoleira com uma bainha especial para a espada da verdade. Depois ensinou-lhe como usar o pesado escudo preso às costas por um suporte, para poder ser transportado enquanto viajava. Quando tudo estava pronto, o anjo voltou a colocar-se a uma certa distância.
- Michael Thomas de Propósito Puro, agora possuis a tríade de ferramentas que te permitem passar a uma nova vibração. Já tens a espada da verdade, o escudo do conhecimento e, finalmente, a armadura do espírito, denominada «manto de Deus», que representa a sabedoria necessária para poder utilizar adequadamente os outros dois instrumentos. Amanhã retomarás a tua viagem transformado num Guerreiro de Luz.
Nesta tríade reside um grande poder. Nunca uses os seus elementos separadamente!
Laranja ajudou Mike a tirar armas e conduziu-o de novo aos seus aposentos. Uma vez ali, Mike lavou-se, comeu e foi dormir. Já na cama, passou um bom bocado questionando todas as incongruências que detectara nesta terra. Sossegou e dormiu, com muitos pensamentos contraditórios na sua mente.
Pela manhã, Mike já estava outra vez na sala de instrução. Durante vários dias, Laranja treinou-o, ensinando- lhe como usar as armas com destreza. A primeira aula foi sobre o equilíbrio. O anjo disse que Mike subisse e descesse a escada a correr, rapidamente, como se fosse travar de um combate, com a espada desembainhada e brandindo o escudo. Também lhe ensinou como cair e como levantar-se rapidamente, usando o escudo como contrapeso. Ao longo do treino, Mike notou que, apesar de serem utilizados, os instrumentos não se sujavam nem mostravam sinais ou amolgadelas.
Com a armadura posta e empunhando as armas, correu, andou, deu voltas e realizou todo o tipo de acções
e movimentos, excepto praticar combates. Gradualmente, Mike foi adquirindo uma sensação de equilíbrio, e à mediada que o tempo foi passando, repetiu-se uma estranha situação: Pela noite, quando se libertava dos instrumentos de combate, Mike não sentia a natural sensação de alívio por se ter livrado do grande peso das armas. Pelo contrário, sentia-se pequeno, indefeso, e demasiado leve!
Vários dias depois. Laranja começou a ministrar-lhe o treino final, que consistia em aprender a utilizar a espada da verdade. Mike tinha a expectativa que Laranja se transformara numa espécie de mestre samurai que lhe ensinara a combater. Mas recebera um tipo de treino que nada tinha a ver com o que imaginara.
- Agora já estás preparado para aprender a utilizar as armas, Michael Thomas – disse Laranja -. Desembainha a espada.
Mike desembainhou a voluptuosa e compridíssima espada, com a destreza e o vigor de um orgulhoso cavaleiro medieval. O anjo olhou com aprovação, e pediu-lhe.
- Agora, levanta-a para a Deus.
Michael assim fez.
- Sente a espada antes de expressares a tua verdade, Michael Thomas.
Mike não entendia o que Laranja queria dizer com aquilo. Sentir a espada? Como não senti-la se a tinha entre as mãos?
- Michael Thomas de Propósito Puro – exortou o intenso ser Laranja -, agarra a espada, levanta-a tão alto quanto poderes e expressa tua verdade. Amas Deus?
Michael já imaginava o que viria a seguir. Outra vez a mesma pergunta! Só que, desta vez, encontrava-se empunhando uma robusta arma espiritual que apontava para o céu. Acaso era esperado algum tipo de discurso?
Michael começou a verbalizar a sua já estereotipada resposta:
- Sim, Laranja, amo-o. Dado que podes ler no meu coração…. – Mas, nesse preciso momento, ficou perplexo, sem poder acabar a frase. A espada tinha começado a vibrar! Era como se a arma cantasse. Mike percebeu uma intensa calidez vibratória que lhe percorria o braço e descia até ao peito. Como resposta a esta situação, o escudo começou a zombar, e a armadura também começou a aquecer!
Fora treinado para usar facilmente aqueles utensílios, e agora, de algum modo, eles tinham adquirido vida devido ao propósito que expressara. Sentiu-se invadido pela sensação do poder destes elementos que usara e manejado. Então, lembrou-se que estava a discursar:
- Pois claro que amo Deus! – Mike empunhou a espada e levantou-a para o céu; então pôde senti-la vibrar com o seu propósito pleno de verdade. Sentiu-se poderoso. Sentiu-se iluminado. Sentiu-se capaz de permanecer mais uma hora ali, empunhando a pesada e vibrante arma e mantendo o seu propósito de regressar ao Lar, onde pertencia. Sentiu vibrar os três elementos e cantar a nota musical fá, que ressoava dentro do seu coração. As lágrimas começaram a correr pela face, à medida que ia sentindo e vendo a propriedade da cerimónia. Os instrumentos estavam a aceitar o organismo de Mike e a integrar-se dentro do seu
espírito. E o seu propósito, tão verdadeiro, era o catalizador da cerimónia! Assim, era esta a razão de ser da espada, o escudo e a armadura? Era uma metáfora. Que outra coisa podia ser, senão isso? Esta era uma explicação muito válida para Michael Thomas, porque o tinha levado a um novo nível de compromisso e consciência.
Nessa noite, o anjo Laranja e Michael Thomas trocaram sentimentos afectuosos. Mike sabia que faltava pouco para partir. Laranja nunca o ensinou a combater, porque as armas eram unicamente símbolos. Mike interrogou o anjo sobre o Lar e o Caminho. Perguntou porque é que, nesta terra sagrada e espiritual, se ensinava a manejar as armas de guerra da Terra. Laranja contornou habilmente todas as perguntas que Mike lhe fez, excepto aquelas cuja resposta podia saber; contudo, as suas respostas foram imprecisas.
- Laranja, na Terra terias sido um magnifico politico – disse Mike, brincando.
- Que te fiz para que me insultes desse modo? – respondeu Laranja devolvendo a brincadeira.
- Sinto que me une a ti um vinculo muito autêntico… - começou a dizer Mike. Mas depressa se apercebeu que ficou sem palavras. Realmente, não queria deixar este grande mestre angélico.
- Não digas mais nada, Michael Thomas de propósito Puro. Compartilharei contigo um segredo dos anjos.
Laranja tinha idealizado uma revelação exclusiva para Mike; inclinou-se para ele até que os olhos de ambos ficassem à mesma altura, e continuou:
- Tu e eu somos a mesma família. Não podemos dizer adeus porque, na realidade, um não deixará o outro jamais. Eu sempre estou contigo e à tua disposição. Já verás que assim é… e agora, está na hora de voltares para os teus aposentos.
Mike estava emocionado pela natureza franca da comunicação que estabelecera com Laranja. Afinal, eram da mesma família? Como era isso possível? Nesse momento, Mike sentiu-se ridículo ao compreender que Laranja o tinha ouvido a queixar-se que os Anjos nunca se despediam. Que resposta lhe tinha dado! Que grande revelação! Que pensamento! Assim sendo, os anjos nunca me deixarão?
Mike recordou, pela primeira vez desde que chegara à Casa Laranja três semanas antes, que, na bifurcação do caminho, Azul lhe indicara como usar o mapa. Verdadeiramente, tinha ouvido a voz de Azul dentro da sua cabeça.
- Conheces Azul? – perguntou Mike ao anjo Laranja.
- Tanto como a mim mesmo – foi a resposta deste.
Mike ficou calado e retirou-se para os seus aposentos... que cada vez gostava mais: o lugar onde comia e dormia. Embora nada de concreto ainda lhe tivesse sido dito acerca de sua partida, guardou as suas coisas nas bolsas e na mochila (quase se esquecia delas), e preparou-se para continuar a sua viagem pela manhã.
Deu uma olhadela aos livros e às fotos, suspirou de novo pelas experiências na Terra e pelas valiosas que eram os seus parcos pertences... embora, de algum modo, começassem a ficar deslocados.
De manhã, depois do pequeno-almoço, um pensativo Michael Thomas apareceu na porta da Casa Laranja, onde o anjo da mesma cor o tinha conduzido em silêncio. No entanto, desta vez, Mike ia mais carregado;
para além das bolsas com os livros e as fotos, da mochila com o mapa, levava a bolsa com o mapa e os novos instrumentos, que se chocalhavam emitindo um som metálico quando ele caminhava.
- Michael, tens a certeza de que queres levar todas essas coisas na tua viagem? – perguntou Laranja -. Talvez fosse melhor que não as levasses contigo.
- Representam todas os meus bens terrenos – respondeu Mike -. Necessito deles.
- Para quê?
Mike considerou a pergunta, mas deixar as suas malas não era uma opção.
- Para recordar e honrar minha vida anterior.
- Para continuares ligado aos estilos de vida precedentes, Michael?
Mike começava a ficar irritado pelo cariz de perguntas. O anjo insistiu.
- Por que não deixas as bolsas, Michael? Já sabes que te quero bem e que as guardarei para o caso de algum dia voltares aqui.
- Não! - Mike não queria ouvir nem um só comentário mais sobre as suas bolsas. Eram os seus pertences e queria mantê-los tanto tempo quanto possível. Neste estranho lugar necessitava de algo que lhe recordasse de quem era realmente.
O anjo fez uma inclinação de cabeça, concordando. Mike sempre fora tratado assim. Apercebeu-se que todos os anjos que conhecera honravam as decisões que tomava e jamais contestavam as suas resoluções finais.
Nessa manhã, Michael Thomas não se despediu do anjo Laranja. De pés nos degraus, frente a esse ser com quem tinha convivido várias semanas, recordou a sua explicação sobre o tema.
- Ver-te-ei em breve – disse Michael, sem crer no que estava a dizer.
Laranja simplesmente entrou na Casa e fechou a porta. «Não sei como podem fazer isto», pensou Mike para si. «Nunca há despedidas, só portas que se fecham!»
Mike iniciou o seu caminho numa direcção que não tinha tomado antes. Fazia o que podia para se manter junto das coisas que levava, dada a agoniante carga. Era demasiado carregamento: alem das bolsas e da mochila com o mapa, carregava a espada, o escudo e a armadura. Lamentava ter que suportar fisicamente esses símbolos da Nova Era! E como pesavam! «Que coisa mais parva», pensou Mike secretamente. «Devo ter um aspecto muito ridículo. Realmente, serão necessárias estas armas? Nunca as usarei para combater em nenhuma batalha. Na realidade, não saberia utilizá-las! Laranja não me ensinou. São apenas uma parte da cerimónia e somente conferem uma aparência. Não será suficiente reconhecê-las como tal?»
Como estava muito ocupado tratando de se equilibrar enquanto caminhava, carregado com o seu novo equipamento e as suas bolsas, esquecera-se por completo do problema que o esperava no caminho. Não se lembrava de que havia algo à sua espera. Então, enquanto seguia o seu caminho chocalhando involuntariamente os utensílios metálicos que levava consigo, tratando de se equilibrar, e carregando as bolsas e a mochila, a força sinistra e escura, de cor verde, observava por detrás das árvores.
A coisa examinou Mike com um interesse renovado. Já não era o antigo Mike. Tinha sido trocado por outro que tinha armas e poder! Deixara de ser fácil. Tinha de usar uma nova estratégia capaz de fazer frente a um Michael Thomas com grande poder e franqueza. O tempo se encarregaria de fazer o resto… mas, por enquanto, o ser obscuro continuaria a seguir Mike à distância, esperando uma oportunidade para atacar. Executava a sua persecução mantendo-se oculto para não ser detectado, seguindo o percurso de Michael Thomas de Propósito Puro.
Aquilo estava convencido de que este ser humano nunca chegaria à porta final, que ostentava um rótulo com a palavra «CASA».

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A História de Michael Thomas e os Sete Anjos IV


A Primeira Casa

O dia seguinte amanheceu um pouco cinzento, mas Mike estava animado. Com os escassos fundos que tinha reservado, permitiu-se tomar um bom pequeno-almoço na esplanada de um café local. Sentia-se estranho por estar na rua a essa hora, já que, habitualmente, estava no escritório, acostumado a trabalhar duramente durante todo o dia e a almoçar uma sandes sentado em frente do escritório. Quando o Sol se punha, ainda ele estava no interior do edifício.
Quando saiu da cafetaria, com as maletas nas mãos e a bolsa pendurada no ombro, Mike perguntou-se que caminho deveria tomar exactamente. Sabia que não podia ir para Oeste, pois rapidamente chegaria ao oceano. Assim, optou por ir para Este, pois não tinha alternativa. Mike, naturalmente, sentia-se muito bem ao iniciar uma viagem baseada na fé… embora desejasse ter um destino mais claro.
- Se ao menos tivesse algum indício do caminho a tomar!... Talvez um mapa ou uma indicação da minha
posição actual - disse Mike enquanto caminhava devagar para Este, atravessando lentamente os subúrbios de Los Angeles até aos limites de uns bairros aparentemente intermináveis. Pensou:
- Vou levar semanas a sair daqui!
Verdadeiramente, não sabia para onde ia, mas continuou para Este. À hora do almoço, sentou-se na beira de uma vala e comeu as sobras que guardara do pequeno-almoço. Uma vez mais se perguntou se ia pelo caminho correcto.
- Se estás aí, preciso de ti agora! - exclamou Mike em voz alta, em direcção ao céu. - Onde está a porta do caminho?
- Terás um mapa actualizado.
Mike ouviu uma voz familiar que lhe falava ao ouvido. Levantou-se e olhou à sua volta, mas não viu ninguém.
Mas reconheceu a voz do anjo que tinha conhecido.
- Ouvi isso realmente ou foi impressão minha? – murmurou Mike com uma sensação de alívio. Finalmente, havia comunicação. - Por que demoraste tanto? – acrescentou com uma ponta de humor.
- Só agora pediste ajuda – disse a voz.
- Mas… Andei horas às voltas!
- Essa foi a tua escolha. Porque levaste tanto tempo a verbalizar o teu pedido?
Era evidente que a voz tinha um matiz divertido, ao responder à observação de Mike.
- Estás a dizer que só tenho ajuda quando a peço?
- Sim, claro!... És um espírito livre, respeitado e poderoso, capaz de escolher o teu próprio caminho, se assim o decidires. Aliás, é o que tens feito durante toda a tua vida. Nós sempre estivemos aqui, mas só actuamos quando pedes…. Parece-te assim tão estranho?
Mike sentiu-se momentaneamente irritado com a lógica absoluta das palavras do anjo.
- Bom, diz-me, para onde devo ir? Já passa do meio-dia, e levei a manhã toda a adivinhar para onde tenho de ir.
- Adivinhaste bem – respondeu a voz com ironia implícita -. A porta do caminho está precisamente na tua frente.
- Quer isso dizer que ia por bom caminho?
- Não te surpreendas demasiado por ires na direcção correcta. Fazes parte do Todo, Michael Thomas de Propósito Puro. Com a prática, a tua intuição será muito eficaz. Hoje, estou aqui unicamente para te dar um pouco de orientação. – A voz fraquejava -. Olha bem na tua frente… Sim, já estás no umbral!
Mike estava junto de uma sebe que ia dar a um barranco, ladeado por fileiras de casas.
- Não vejo nada.
- Olha outra vez, Michael Thomas.
Mike olhou para o arbusto e, pouco a pouco, foi-se apercebendo de que ali estava a silhueta de uma porta.
Passava despercebida porque estava completamente camuflada e parecia fazer parte da estrutura total da planta. Mike pensou que era impossível não ver a porta, mesmo querendo não ver. Era tão evidente! Desviou o olhar por um momento e logo voltou a olhar, com uma nova percepção. Continuava ali, mais evidente do que antes.
- O que está a acontecer? - perguntou Mike, consciente de que a sua percepção tinha mudado.
- Quando as coisas ocultas se tornam óbvias – disse a voz doce – já não podes regressar à ignorância. Agora, verás todas as portas com claridade, posto que exprimiste essa intenção.
Ainda que Mike não pudesse compreender totalmente o que estava a receber, estava completamente preparado para empreender o principal caminho da sua viagem. A sebe deixou de parecer uma porta e, de facto, converteu-se numa! Mesmo em frente dos seus olhos, estava a alterar-se e a definir-se.
- Isto é um milagre! – sussurrou, enquanto continuava a observar como a alta sebe se transformava numa porta tangível. Recuou um pouco para permitir que o fenómeno dispusesse de suficiente espaço.
- De facto, não é um milagre – replicou a voz -. O que acontece é que o teu propósito espiritual modificou- te um pouco, e as coisas que vibram no teu novo nível entraram, simplesmente, no teu campo de visão. Isso não é um milagre. Muito simplesmente, é assim que funciona.
- Estás dizer-me que a minha consciência pode transformar a realidade?
- Semântica!... A realidade é a essência de Deus, e é constante. A tua consciência humana só revela aquilo que desejas experimentar. À medida que vais mudando, uma parte cada vez maior vai-se tornando evidente.
Então, podes experimentar as numerosas revelações novas e utilizá-las como quiseres. No entanto, não poderás voltar para trás.
Mike começava a compreender. Mas, antes de iniciar o caminho atravessando a porta que acabava de se revelar ante os seus olhos, ainda queria fazer mais uma pergunta. Sempre tivera a tendência para analisar tudo em função da verdade, e isto incluía a doce voz que, agora, estava a ouvir na sua mente. Pensou um pouco e perguntou o seguinte:
- Disseste que sou uma criatura de livre-arbítrio. Então, porque não posso voltar para trás, se assim decidir?...
O que acontece se preferir ignorar a nova realidade e voltar a uma mais simples?... Acaso não é isso livre-arbítrio?
- É a física da espiritualidade que cria um axioma que estabelece que tu jamais poderás regressar a um estado de menor consciência – replicou a voz -. No entanto, se escolhes activamente ir nessa direcção, então estás a negar a iluminação que te foi dada, e irás desequilibrar-te. Podes, é claro, tentar retroceder. É o teu livre-arbítrio. Mas é triste que haja Humanos que tentem ignorar aquilo que sabem ser a verdade, porque não continuarão a ter, durante muito mais tempo, um índice vibracional dual.
Mike não compreendeu completamente a nova informação espiritual que a voz lhe dera. Não obstante, recebera a resposta à sua pergunta. Sabia que podia dar meia volta e regressar à cidade. A escolha era sua.
Mas, enquanto estivesse ali, continuaria a ver a porta. Se optasse por ignorá-la, apesar de saber que existia, era provável que se desequilibrasse e, sem dúvida, adoeceria. De algum modo, tudo isto fazia sentido, e o seu desejo era avançar, não retroceder.
Desta forma, pegou nas maletas e na bolsa e cruzou a porta que significava o início da sua viagem. Esse caminho era um simples carreiro de terra, similar a qualquer caminho de qualquer barranco. Estava emocionado, e pôs-se em marcha, deixando para trás, rapidamente, a porta aberta.
Logo de seguida, uma figura esverdeada, sinistra e indefinida, deslizou atrás dele, passando também pela porta. Assim que passou, pisou o arbusto que definhou imediatamente. Se Mike não se tivesse adiantado terse-ia dado conta da sua presença e do fedor que desprendia. Rapidamente, esta figura começou a seguir Mike, mantendo-se fora da sua vista, mas acompanhando o seu passo impetuoso. Como era um espectro astuto e veloz, Aquilo seguia Mike ensombrando o seu ímpeto e a sua alegria com a mesma quantidade de ódio e propósitos obscuros. Mike não podia sequer imaginar que Aquilo existia.
Pouco depois de se ter posto a caminho, o panorama e, inclusive, a percepção do terreno, mudaram ostensivamente.
Já não conseguia ver a gigantesca cidade de Los Angeles, nem a enorme quantidade de prédios
da área suburbana. De facto, não havia qualquer indício de civilização, como, por exemplo, postes de telefone, aviões e auto-estradas. Tomara, com entusiasmo, aquele caminho não asfaltado que se abrira na sua frente, e avançara sem pensar, como uma criança que abre os seus presentes de Natal. Então, apercebeu-se de que, passo a passo, ia entrando profundamente noutro mundo. A viagem estava levando-o a uma realidade
que ainda estava longe de apagar e que acabara de experimentar. Mike perguntou-se se não se encontraria num lugar entre a Terra e o Céu, onde começaria a sua aprendizagem espiritual. Tinha dado como certo que esse processo não tardaria, o que o prepararia para a honra de regressar ao Lar. O caminho, parecido com um carreiro, começou a alargar-se gradualmente até que ficou da largura de uma estrada. Não apresentava quaisquer vestígios de pegadas, e era muito fácil de seguir.
Subitamente, Mike olhou à sua volta. O que era aquilo?... Os seus olhos captaram uma imagem verdeescuro que se movia rapidamente, e que correu apressadamente para a esquerda, ocultando-se atrás de uma rocha, grande e redonda.
- Deve ser a fauna local - pensou.
O caminho que tinha percorrido até agora era um reflexo exacto do lugar para onde agora se dirigia: uma estrada larga que se escondia e voltava a aparecer, desaparecendo no horizonte, colina após colina.
O caminho percorrido desenrolava-se num campo exuberante e magnífico, cheio de árvores, prados verdejantes e florações entre as rochas. As flores salpicavam a paisagem como infinitos pontos de cor luminescente, situados exactamente nos lugares precisos daquele tapete da Natureza.
Mike parou para descansar. Não trazia relógio mas, ao observar na posição do Sol, calculou que seria hora de almoço. Sentou-se à beira do caminho e comeu os restos do substancial pequeno-almoço, que guardara para a próxima fome. Olhou à sua volta e apercebeu-se da tranquilidade.
- Não há pássaros - pensou. Olhando para o chão mais de perto, acrescentou. - E também não há insectos!
Este lugar é realmente estranho. - Mike observava tudo quando sentiu uma ligeira brisa no cabelo. «Bom, pelo menos, há ar! - Olhou para o céu e contemplou o azul nítido de um dia magnífico e renovador.
Apercebeu-se que não havia mais comida, mas também sabia que não estava sozinho e que, de um modo ou outro, Deus lhe daria sustento. Recordou a história de Moisés no deserto, o qual tinha percorrido durante 40 anos juntamente com as tribos de Israel. Recordou que esses nómadas receberam o alimento do céu, e reflectiu sobre esta história, perguntando-se se seria verdadeira. Pensou: Todas aquelas famílias que seguiram Moisés tinham adolescentes refilões, tal como temos hoje. E imaginava-os a queixarem-se aos seus respectivos pais: - Eh! Já é a oitava vez que estamos na mesma rocha, desde que nascemos! Por que confiam nesse tipo, esse tal Moisés?... O homem só nos faz andar em círculos! Ele não pode ser assim tão sabedor!
Será que ainda não percebem isso?
E riu-se enquanto imaginava a cena. Então, perguntou-se se, dentro em pouco, veria essa rocha… que também lhe indicaria que estava a andar em círculo! Não tinha a menor ideia para onde se dirigia, tal como os israelitas no deserto e também não tinham que comer! A semelhança entre ambas as situações ainda lhe deu mais vontade de rir.
Talvez porque o riso tivesse sido respeitado ou, simplesmente, porque se tratava do momento propício, a verdade é que ao sair da curva seguinte do caminho de terra, Mike, viu-a. Era a primeira Casa, de cor azul brilhante. Pensou:
- Céus!... Se Frank Lloyd Wright visse isto, daria um grito! - E, rindo-se para dentro, acrescentou: «Espero não ter sido irreverente!» A verdade, porém, é que nunca tinha visto uma Casa azul. O caminho levava directamente à porta, e assim soube e reconheceu que estava diante da sua primeira paragem. Além disso, era evidente que não havia qualquer outra edificação nos arredores.
À medida que Mike se aproximava da pequena casa de campo, pôde apreciar que a sua cor era azul metálico e que, do seu interior, saia uma luz difusa. Enquanto percorria o caminho até à porta, reparou num pequeno sinal que identificava a Casa como CASA DOS MAPAS. Reconheceu, de imediato, que era isso, precisamente, que tinha pedido. Talvez o resto da viagem não tivesse tantas incertezas. Um mapa actualizado podia ser um instrumento valioso nesta estranha terra.
A porta da Casa abriu-se subitamente para dar passagem a uma criatura alta e bonita… de uma cor azul que se harmonizava perfeitamente com o azul da Casa. Era, evidentemente, uma entidade angélica pois, tal como o anjo da visão, ultrapassava a realidade e era maior do que um Ser Humano. A sua presença enchia o ar de uma sensação de esplendor e de uma essência floral. Uma vez mais, Michael conseguia aperceber-se da fragrância que emanava da entidade. Então, este grande ser azul, postou-se na sua frente.
- Bem-vindo, Michael Thomas de Propósito Puro! Estávamos à tua espera.
Diferentemente do anjo da visão, a cara deste ser era perfeitamente visível, e Mike pôde ver nela uma sensação de bem-estar e de alegria que parecia ser contínua, dissesse o que dissesse. Sentiu-se agradado pela sua companhia e mostrou-se respeitoso perante a situação. Saudou o anjo: - Bem-vindo tu também, grande ser azul.
Mike engoliu em seco. E se o anjo não gostasse que lhe chamassem azul?... E se a sua cor azulada fosse somente um produto da mente humana e ele, de facto, não fosse azul?... «Talvez até nem goste dessa cor!»
Mike suspirou ante a lista de «E se…» que estava a passar pela sua mente humana.
- Sou Azul para todos os seres, Michael Thomas de Propósito Puro – disse, pensativo, o anjo - e aceito as tuas boas-vindas com alegria. Por favor, entra na Casa dos mapas e prepara-te para passares aqui a noite.
Desta vez, Mike alegrou-se por o anjo ter lido os seus pensamentos. Ou, mais do que lê-los, podia sentilos, tal como lhe tinha dito o anjo da visão!... Em qualquer caso, alegrou-se por não ter ofendido o guardião da primeira Casa.
Mike e o anjo, duas entidades diferentes reunidas, entraram na Casa Azul. Mas, enquanto a porta se fechava atrás deles, dois olhos descomunais, penetrantes, coléricos e vermelhos vivo, que os espiavam atentamente, um pouco para a esquerda da entrada da Casa, demonstravam estar muito alerta. Não se cansavam, e eram muito pacientes e silenciosos. Não se mexeriam nem pestanejariam até verem que Michael Thomas estava pronto para recomeçar a sua viagem.
Ao entrar em Casa, assombrou-se com o que viu. O interior da estrutura era imenso. Parecia interminável, ainda que o seu exterior fosse modesto e humilde. Lembrou-se que o anjo da visão lhe dissera que as coisas podiam não ser o que pareciam, e era evidente que isto fazia parte da nova e estranha realidade da sua consciência. E fez conjecturas acerca de esta nova percepção: Teria um significado mais amplo?
Seguindo o anjo, Mike percorreu os amplos vestíbulos da Casa dos Mapas. O interior lembrava o de uma biblioteca de primeira categoria, parecida com algumas das ilustres bibliotecas europeias, onde estão classificados importantes livros históricos, de todos os tipos. No entanto, em lugar de estantes com livros, nas paredes havia dezenas de milhar de cubículos, cada um dos quais parecia conter algo que Mike identificou como um pergaminho. As paredes pareciam não ter fim, e havia cubículos em ambos os lados de cada vestíbulo que ia cruzando, com vários andares de altura. Embora não pudesse ver de perto os cubículos, era possível que contivessem mapas, já que o nome da Casa assim o indicava. Mas, porque havia tantos?... O percurso pelas gigantescas salas parecia no ter fim. Pelo caminho, não se encontrou qualquer ser vivo.
- Estamos sozinhos? - perguntou.
O anjo voltou-se para ele, sorriu e disse:
- Depende do que queres dizer com esse «sozinhos». Estás a ver os contratos que cada Ser Humano estabelece com o planeta.
Dito isto, continuou a andar com naturalidade. Mike parou e olhou à sua volta, reagindo com assombro ao que o anjo acabara de lhe dizer. A distância entre eles aumentou, dado que o anjo continuou a andar. Ao ver que Mike não o seguia, parou, voltou-se e esperou pacientemente, sem dizer nada. Mike viu as escadas apoiadas contra enormes paredes com vários andares, cheias de intermináveis cubículos de madeira que continham pergaminhos, uns ao lado dos outros. O anjo tinha-lhes chamado «contratos».
Mas, o que significava isso?
- Não percebi nada do que me disseste – exclamou Mike enquanto alcançava o anjo.
- Antes de terminares a tua viagem, compreenderás – respondeu o anjo com uma voz reconfortante -. Aqui não há nada que seja aterrador, Michael. Tudo está em ordem, a tua visita era esperada e respeitamo-la. O teu propósito é puro, e todos nós podemos constatar isso. Relaxa e desfruta do nosso amor. As palavras do ente azul impressionaram Mike verdadeiramente. Ninguém, em todo o Universo, poderia dizer algo melhor do que ele acabara de dizer. Começara Mike a sentir com maior intensidade?... O anjo da visão tinha-lhe dado um pouco das mesmas vibrações amorosas, mas agora estava a sentir uma reacção emocional que superava qualquer outra que já experimentara.
- Ser amado é uma sensação maravilhosa, não é verdade, Michael?
O anjo azul caminhava novamente junto de Mike e era muito mais alto de que ele.
- O que é este sentimento - perguntou Mike calmamente. Estou quase a chorar.
- Estás mudando para outra vibração, Michael
- Não entendo o que isso quer dizer… Eh!... o senhor tem nome?
Mike novamente se perguntou se teria ofendido aquele ser. E se fosse um anjo feminino?... Mike nada sabia acerca deste tipo de coisas, mas o porte e a aparência do anjo poderiam ser perfeitamente femininos.
- Chama-me simplesmente Azul – respondeu o anjo piscando o olho -. Eu não tenho género, mas, pelo meu tamanho e pela minha voz, a tua mente deduz que sou do género masculino. Para mim, está bem que me trates como tal. - Fez uma pausa para que Mike pudesse captar o que fora dito e, continuou: A tua estrutura celular de Ser Humano pode existir em diversos índices vibratórios, Michael. O índice vibratório a que estás habituado é, digamos assim, o nível número um. Habituaste-te a ele, que te serviu dignamente. Todavia, nesta viagem é preciso que vás mais longe, que passes a um índice vibratório de valor seis ou sete, para assim poderes avançar até à tua meta. Neste momento estás a mudar para o que poderíamos chamar o «índice dois», dado que não termos um nome melhor para lhe dar. Como já te disse, cada índice vibratório implica
uma maior consciência da verdadeira realidade de Deus. O que estás a sentir agora é a consciência do amor. O amor é tangível, Michael. Tem propriedades físicas e é poderoso. O teu novo índice vibratório permite-te senti-lo muito mais, como nunca tinhas sentido. É a essência desta Casa, e irá intensificar-se à medida que fores visitando cada uma das outras Casas.
Mike estava encantado por ouvir Azul. Esta fora a explicação mais longa e, também, a mais clara, que tinha recebido até ao momento.
- És um mestre? – perguntou?
- Sim, cada um dos anjos das Casas existe com essa finalidade, excepto o da última. Terei de te fazer várias revelações que dizem respeito à minha Casa, e os outros anjos farão o mesmo. Quando tiveres terminado a viagem, a tua visão de conjunto acerca de como funcionam as coisas no Universo será muito maior do que a que tens agora. A minha missão é proporcionar-te parte daquilo que te tornaste merecedor por teres expressado o teu propósito. Estás aqui, na minha Casa, para receber o mapa do teu contrato. Amanhã cedo, antes que tu prossigas o teu caminho, mostrar-to-ei e responderei a algumas perguntas. É muito importante que esta Casa seja a primeira, porque te ajudará na tua viagem. De momento, convido-te a que desfrutes
dos nosso presentes que consistem em sustento e descanso.
De novo, Mike seguiu o anjo, a quem começava a sentir como se fosse um velho amigo… ainda que muito azul. Entraram num bonito jardim interior onde todos os frutos e vegetais, todos os canteiros e hortas eram cultivados utilizando uma meticulosa agricultura. A luz, tal como em todas as outras salas, entrava a jorros pelas clarabóias do tecto, enchendo cada zona de uma essência exterior natural. Mike também podia detectar o cheiro do pão cozendo no forno, que provinha de outra zona do imóvel.
- Quem se encarrega da manutenção desta Casa? – perguntou Mike -. Só te vejo a ti, aqui. Tu comes?
- Cada Casa tem espaços como este, Michael. E, não, eu não como. Este jardim existe exclusivamente para os Humanos que, como tu, estão a fazer este caminho, dedicam um tempo a esta experiência de aprendizagem e passam por aqui. O jardim tem muitos zeladores, só que agora não podes vê-los. Enquanto percorreres o teu caminho de conhecimento, não te faltará sustento, saúde e alojamento. Esta é a nossa forma de te
honrar e respeitar o teu propósito!
Mike começou a sentir a agradável sensação de estar protegido, enquanto iam visitando outras salas… com o Ser Humano seguindo sempre o ente azul.
Finalmente, chegaram a uma zona singular de descanso, composta por dependências privadas, providas de uma fantástica cama de dossel e memoráveis lençóis brancos, que convidavam Mike a deixar cair sobre eles o seu corpo fatigado. As fofas almofadas chamavam a sua atenção, oferecendo-lhe a comodidade e a segurança de um sono profundo. Mike esta espantado com o nível de organização que reinava naquela Casa. Então, perguntou espantado:
- Tudo isto é para mim?
- Para ti e para todos os outros, Michael. Tudo isto foi preparado para que qualquer um que tenha o mesmo propósito do que tu.
Na sala contígua havia um banquete tal, que Mike jamais conseguiria consumi-lo todo, por muito que tentasse.
Era composto pela comida mais suculenta que jamais vira e em demasia para uma só pessoa.
- Come o que quiseres, Michael – disse o anjo – que nada se desperdiçará. Mas não guardes o que sobrar; resiste à tentação de levar. Isso faz parte de uma prova do teu processo, e é algo que entenderás mais tarde.
Azul deixou-o sozinho e saiu do recinto. Mike pousou a sua bagagem, sentou-se e pôs-se a comer como raramente tinha comido. Teve cuidado para não cair na gulodice, mas comeu do delicioso manjar até estar satisfeito. As pálpebras começaram a fechar-se, e o ambiente proporciona um grau de comodidade que Mike não voltara a experimentar desde o tempo de criança, ao cuidado dos seus carinhosos pais.
- Se pudesse conservar esta sensação! - pensou. Até o facto de ser Humano valera a pena. Levantou-se da mesa pensando que lavaria os pratos sujos no dia seguinte de manhã. Sentia-se tão cansado! Conseguiu tirar a roupa com dificuldade, e pendurou-a nos cabides da parede. Caiu redondo na cama e rapidamente foi possuído pela cálida abrangência de um sono tranquilo.
Na quietude da manhã, Mike levantou-se sentindo-se incrivelmente renovado. Lavou-se e dirigiu-se à zona do restaurante, onde constatou que já tinham levantado a mesa. No lugar dos pratos sujos do jantar, estava um fantástico pequeno-almoço.
Em parte, tinha acordado com o cheiro de batatas fritas e dos ovos estrelados, e com o aroma delicioso de um pão acabadinho de cozer. Comeu sozinho, e naquele silêncio novamente se perguntou se a sua decisão de voltar para Casa fora correcta:
- Será um erro querer sair da experiência terrena?... O que acontecerá àqueles que deixamos para trás?
Eles não teriam a capacidade de experimentar os níveis de progresso vibratório que ele podia atingir. Seria justo?... Começou a ser invadido por um sentimento de melancolia ao pensar nos seus amigos e nos seus companheiros de trabalho. Estava até preocupado com a sua ex-amante! E perguntou-se:
- O que é que está a acontecer?... Começo a sentir empatia com toda a gente. Isto não costumava acontecer-me. É verdadeiramente doloroso!... Começo a lamentar o facto de possuir algo que os outros não têm.
Quer isto dizer que estou errado?... Deveria voltar para trás?
Subitamente, Azul apareceu no umbral da porta e disse:
- É inevitável que te faças essa pergunta, Michael. Uma vez mais, o anjo sintonizara com os sentimentos de Mike. Embora sobressaltado, Michael adorou ver Azul e deu-lhe as boas-vindas com um aceno de cabeça.
Disse:
- Fala-me dessas coisas, Azul. Com toda a honestidade, preciso de orientação. Começo a questionar se fiz
o que deveria ter feito.
- O trabalho do Espírito é maravilhoso, Michael Thomas de Propósito Puro – disse Azul -, e o postulado da iluminação é este: primeiro, ocupa-te de ti mesmo, e a dignidade da tua viagem será transmitida àqueles que te rodeiam de uma maneira sincrónica, dado que o propósito de uma pessoa sempre afectará muitas outras.
- Uma vez mais, tenho dificuldade em compreender totalmente o que dizes, Azul – replicou Mike, confuso.
- Ainda que não o compreendas neste momento, Michael, as tuas acções afectarão os outros, dando-lhes a oportunidade para tomarem as suas próprias decisões. Não teriam essas opções se tu não tivesses decidido estar aqui, agora. Confia na verdade destas coisas, e não te recrimines.
Mike sentiu que o seu Espírito se libertava de um grande peso. Embora Azul não tivesse conseguido que ele compreendesse por que as coisas funcionam espiritualmente, a afirmação do anjo chegava-lhe, e isso fazia com que se sentisse com mais determinação para seguir em frente. Então, recolheu os seus pertences e saiu do restaurante privado e da zona de dormitórios. Entrou no enorme vestíbulo que desembocava na porta pela qual passara, no dia anterior, vindo do exterior. Azul caminhava lentamente atrás dele, enquanto Mike se maravilhava com a imensidade de tudo o que o rodeava. O anjo não disse nada quando reparou que
a sua bolsa mostrava umas protuberâncias: sabia que eram pães e bolos!
- Onde vamos? – perguntou Mike -. Sigo nessa direcção.
Sabia que tinha de receber o seu próprio mapa e queria que Azul o levasse até ele. Mas Azul disse:
- Espera aqui.
Os dois pararam no centro de um enorme vestíbulo azul, profusamente adornado. Azul dirigiu-se em silêncio para uma parede afastada, perto de uma escada e disse:
- Chega aqui, Michael.
Mike obedeceu e, num ápice, Azul fê-lo subir a escada até ao cubículo específico onde se encontrava o seu mapa. À medida que ia subindo, agarrado ao corrimão, notou que havia um nome escrito em cada cubículo embutido na parede. Na verdade, havia dois nomes em cada compartimento: um deles parecia escrito em caracteres árabes e o outro em caracteres romanos. Em lugar de estarem ordenados alfabeticamente, esses cubículos estavam dispostos segundo um sistema que Mike desconhecia, mas que, sem dúvida, era familiar a Azul. Este, tinha-lhe dito, exactamente, onde procurar e, agora, Mike estava a uma curta distância do compartimento
que Azul lhe indicara.
Finalmente, vi-o. O compartimento tinha escrito «Michael Thomas», junto de outro letreiro escrito em estranhos caracteres, tal como os outros compartimentos. Mike pensou: «Provavelmente, estão escritos na linguagem angélica». Tinham-lhe dado as seguintes instruções: não olhar para o que estava à sua volta, tirara o pergaminho do compartimento correspondente e descer para o examinar. Mike acabava de o tirar do cubículo e começara a descer a escada quando os seus olhos se fixaram noutro de nomes. Sentiu que o seu coração
parara! Os nomes dos seus pais também estavam ali! A disposição dos pergaminhos era em grupos familiares! Era nisso que consistia o sistema espiritual utilizado no enorme vestíbulo. Mike sabia que estava absolutamente proibido de tocar no pergaminho de outra pessoa; no entanto, ficou ali por uns momentos para examinar alguns dos nomes que não faziam sentido para ele.
- Por que estão esses outros nomes, junto dos da minha família?
- Michael! – chamou Azul, de baixo.
- Vou já, senhor! – respondeu um tímido Mike. Azul sabia o que ele estava a pensar, mas Mike não queria formular um tipo de pergunta capaz de romper o protocolo daquele lugar sagrado. Pensativamente, desceu a longa escada azul e entregou o pergaminho a Azul. Este, olhou para Mike durante um bom bocado, e na sua firme expressão não havia segredos: transmitia a sua gratidão por este ter respeitado a sacralidade do sistema.
Mike sentiu que o amor de Deus inundava todo o seu ser, e ambos sorriram amplamente em face daquela comunicação sem palavras. Mike começava a sentir que as palavras já não eram necessárias. Era comos e conseguisse comunicar a Azul tudo quanto quisesse, sem emitir qualquer som. E pensou.
- Isto é estranho!
- Não tão estranho como aquilo que irás ver, em breve. – disse Azul em resposta aos seus pensamentos.
- Caramba!... Aqui não tenho hipóteses! - pensou Mike.
Azul ignorou este último pensamento. Colocou o pergaminho sobre uma mesa e virou-se para Mike.
- Michael Thomas de Propósito Puro - disse formalmente -, este é o mapa da tua vida. De uma forma ou de outra, levá-lo-ás contigo, a partir de agora. É-te dado com muito amor e é uma das coisa mais valiosas que jamais possuirás.
Logo Mike recordou as palavras do anjo da visão do hospital a propósito de que a Nova Energia seria muito mais activa do que antes. Então, Mike fez a pergunta inevitável:
- É uma mapa actualizado?
- Mais actualizado do que poderias desejar – foi a fantástica resposta do alto ser de cor azul. Mike ficou até com a sensação de que Azul se ria dissimuladamente.
Azul, sem pronunciar uma palavra, entregou o mapa a Mike, convidando-o a examiná-lo. Mike pegou nele e apertou-o contra o peito, durante um momento, desfrutando daquele presente, como se fosse uma criança.
Sentiu o carácter sagrado do momento, e abriu o mapa com tal cerimónia que fez sorrir Azul, que sabia o que ia acontecer.
Qualquer reacção de assombro ou expectativa desapareceu enquanto Mike desenrolava o pequeno pergaminho.
Estava em branco!... Ou não?... Precisamente no centro do pergaminho, visível apenas através de um cuidadoso exame, encontrava-se um grupo de símbolos e letras. Mike inclinou-se e observou de perto aqueles caracteres agrupados. Uma seta assinalava um pequeno ponto vermelho. Junto desse ponto estavam a palavras: Estás aqui. Ao lado, havia um pequeno símbolo que representava uma casa de campo, no qual se podia ler: «Casa dos Mapas». Ao lado deste, havia uma pequena zona profusamente detalhada, de cerca de três centímetros, que continha o caminho percorrido por Mike até ao momento. E acabava ali… sem mais!...
O mapa só mostrava onde ele estava naquele momento, e detalhava, unicamente, uma pequena zona que se estendia, mais ou menos, por cem metros em cada direcção.
- O que é isto? – inquiriu Mike, sem muito respeito. - Trata-se de uma piada angélica, Azul?... Percorri todo este caminho até à Casa dos Mapas para receber um maravilhoso pergaminho sagrado que me diz que… estou na Casa dos Mapas?
- As coisas nem sempre são o que parecem, Michael Thomas de Propósito Puro. Guarda este dom e leva-o contigo.
Na realidade, Azul não estava a responder à pergunta. Mike apercebeu-se intuitivamente que não seria boa
ideia voltar a fazê-la, pelo que enrolou aquele inútil mapa e guardou-o na mochila. Estava claramente decepcionado.
Azul, seguido por Mike, percorreu, de novo, o caminho que levava à porta principal e saiu para o ar livre.
O anjo dirigiu-se a Mike, dizendo:
- Michael Thomas de Propósito Puro, devo fazer-te uma pergunta, antes de continuares a viagem para Casa.
- Diz, meu amigo azul, qual é a pergunta?
- Michael Thomas de Propósito Puro, amas Deus? – Azul estava muito sério. Mike achou estranho que o anjo da visão do hospital também lhe tivesse feito a mesma pergunta, e quase no mesmo tom. E perguntou se qual seria o significado desta repetição.
- Querido e esplendoroso mestre azul, dado que podes ver o meu coração, já sabes que amo Deus, sem qualquer dúvida.
Mike olhou de frente para o anjo, enquanto lhe dava a sua sincera resposta.
- Que assim seja – disse Azul e entrou na pequena casa azul-cobalto, fechando a porta com firmeza.
Mike tinha uma sensação de repentina desconexão e perguntou-se:
- Esta gente alguma vez dirá adeus?!
* * *
O tempo estava agradável e aromático. Mike pegou na sua bagagem e na bolsa com víveres, entre os quais estavam os bolos e o pão que tinha guardado na Casa Azul, e meteu pelo caminho de terra, numa direcção que sabia que o conduziria a outra Casa de aprendizagem. Começou a relembrar a lista de todos os elementos humorísticos que faziam parte dos acontecimentos ocorridos na Casa dos Mapas, e pensou:
«Imagina!... Um mapa que só te diz onde estás nesse preciso momento! Que inutilidade!... É evidente que já sei onde estou. Que lugar mais estranho, este!
Ecos dos risos soaram nas colinas, enquanto Michael Thomas de Propósito Puro fazia participar da alegria da sua situação, as árvores e as rochas, à medida que prosseguia a sua viagem para Casa.
Os seus risos também chegaram às orelhas verdes, cobertas de verrugas, do ente tenebroso que o seguia, somente a duzentos metros de distância. Mike não tinha a menor ideia de que a dita forma obscura tinha esperado pacientemente que ele retomasse o caminho e, uma vez mais, estava a seguir os seus passos. O ente não projectava alegria, somente a determinação de que Michael Thomas jamais chegaria à última Casa. Já tinha concebido a sua estratégia que consistia em reduzir a distância entre ele e Michael Thomas de Propósito Puro.