"Abençoado seja o Humano que busca Deus à sua própria maneira, ainda que eles estejam em algum prédio, entoando canções ou cultivando doutrinas, que podem ser fabricadas pelo homem.
Na realidade, eles empregam todo o seu coração e a sua compaixão, na busca de Deus.
Que eles não sejam julgados por seus irmãos e irmãs, por este motivo, pois são igualmente amados por Deus."

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A História de Michael Thomas e os Sete Anjos IV


A Primeira Casa

O dia seguinte amanheceu um pouco cinzento, mas Mike estava animado. Com os escassos fundos que tinha reservado, permitiu-se tomar um bom pequeno-almoço na esplanada de um café local. Sentia-se estranho por estar na rua a essa hora, já que, habitualmente, estava no escritório, acostumado a trabalhar duramente durante todo o dia e a almoçar uma sandes sentado em frente do escritório. Quando o Sol se punha, ainda ele estava no interior do edifício.
Quando saiu da cafetaria, com as maletas nas mãos e a bolsa pendurada no ombro, Mike perguntou-se que caminho deveria tomar exactamente. Sabia que não podia ir para Oeste, pois rapidamente chegaria ao oceano. Assim, optou por ir para Este, pois não tinha alternativa. Mike, naturalmente, sentia-se muito bem ao iniciar uma viagem baseada na fé… embora desejasse ter um destino mais claro.
- Se ao menos tivesse algum indício do caminho a tomar!... Talvez um mapa ou uma indicação da minha
posição actual - disse Mike enquanto caminhava devagar para Este, atravessando lentamente os subúrbios de Los Angeles até aos limites de uns bairros aparentemente intermináveis. Pensou:
- Vou levar semanas a sair daqui!
Verdadeiramente, não sabia para onde ia, mas continuou para Este. À hora do almoço, sentou-se na beira de uma vala e comeu as sobras que guardara do pequeno-almoço. Uma vez mais se perguntou se ia pelo caminho correcto.
- Se estás aí, preciso de ti agora! - exclamou Mike em voz alta, em direcção ao céu. - Onde está a porta do caminho?
- Terás um mapa actualizado.
Mike ouviu uma voz familiar que lhe falava ao ouvido. Levantou-se e olhou à sua volta, mas não viu ninguém.
Mas reconheceu a voz do anjo que tinha conhecido.
- Ouvi isso realmente ou foi impressão minha? – murmurou Mike com uma sensação de alívio. Finalmente, havia comunicação. - Por que demoraste tanto? – acrescentou com uma ponta de humor.
- Só agora pediste ajuda – disse a voz.
- Mas… Andei horas às voltas!
- Essa foi a tua escolha. Porque levaste tanto tempo a verbalizar o teu pedido?
Era evidente que a voz tinha um matiz divertido, ao responder à observação de Mike.
- Estás a dizer que só tenho ajuda quando a peço?
- Sim, claro!... És um espírito livre, respeitado e poderoso, capaz de escolher o teu próprio caminho, se assim o decidires. Aliás, é o que tens feito durante toda a tua vida. Nós sempre estivemos aqui, mas só actuamos quando pedes…. Parece-te assim tão estranho?
Mike sentiu-se momentaneamente irritado com a lógica absoluta das palavras do anjo.
- Bom, diz-me, para onde devo ir? Já passa do meio-dia, e levei a manhã toda a adivinhar para onde tenho de ir.
- Adivinhaste bem – respondeu a voz com ironia implícita -. A porta do caminho está precisamente na tua frente.
- Quer isso dizer que ia por bom caminho?
- Não te surpreendas demasiado por ires na direcção correcta. Fazes parte do Todo, Michael Thomas de Propósito Puro. Com a prática, a tua intuição será muito eficaz. Hoje, estou aqui unicamente para te dar um pouco de orientação. – A voz fraquejava -. Olha bem na tua frente… Sim, já estás no umbral!
Mike estava junto de uma sebe que ia dar a um barranco, ladeado por fileiras de casas.
- Não vejo nada.
- Olha outra vez, Michael Thomas.
Mike olhou para o arbusto e, pouco a pouco, foi-se apercebendo de que ali estava a silhueta de uma porta.
Passava despercebida porque estava completamente camuflada e parecia fazer parte da estrutura total da planta. Mike pensou que era impossível não ver a porta, mesmo querendo não ver. Era tão evidente! Desviou o olhar por um momento e logo voltou a olhar, com uma nova percepção. Continuava ali, mais evidente do que antes.
- O que está a acontecer? - perguntou Mike, consciente de que a sua percepção tinha mudado.
- Quando as coisas ocultas se tornam óbvias – disse a voz doce – já não podes regressar à ignorância. Agora, verás todas as portas com claridade, posto que exprimiste essa intenção.
Ainda que Mike não pudesse compreender totalmente o que estava a receber, estava completamente preparado para empreender o principal caminho da sua viagem. A sebe deixou de parecer uma porta e, de facto, converteu-se numa! Mesmo em frente dos seus olhos, estava a alterar-se e a definir-se.
- Isto é um milagre! – sussurrou, enquanto continuava a observar como a alta sebe se transformava numa porta tangível. Recuou um pouco para permitir que o fenómeno dispusesse de suficiente espaço.
- De facto, não é um milagre – replicou a voz -. O que acontece é que o teu propósito espiritual modificou- te um pouco, e as coisas que vibram no teu novo nível entraram, simplesmente, no teu campo de visão. Isso não é um milagre. Muito simplesmente, é assim que funciona.
- Estás dizer-me que a minha consciência pode transformar a realidade?
- Semântica!... A realidade é a essência de Deus, e é constante. A tua consciência humana só revela aquilo que desejas experimentar. À medida que vais mudando, uma parte cada vez maior vai-se tornando evidente.
Então, podes experimentar as numerosas revelações novas e utilizá-las como quiseres. No entanto, não poderás voltar para trás.
Mike começava a compreender. Mas, antes de iniciar o caminho atravessando a porta que acabava de se revelar ante os seus olhos, ainda queria fazer mais uma pergunta. Sempre tivera a tendência para analisar tudo em função da verdade, e isto incluía a doce voz que, agora, estava a ouvir na sua mente. Pensou um pouco e perguntou o seguinte:
- Disseste que sou uma criatura de livre-arbítrio. Então, porque não posso voltar para trás, se assim decidir?...
O que acontece se preferir ignorar a nova realidade e voltar a uma mais simples?... Acaso não é isso livre-arbítrio?
- É a física da espiritualidade que cria um axioma que estabelece que tu jamais poderás regressar a um estado de menor consciência – replicou a voz -. No entanto, se escolhes activamente ir nessa direcção, então estás a negar a iluminação que te foi dada, e irás desequilibrar-te. Podes, é claro, tentar retroceder. É o teu livre-arbítrio. Mas é triste que haja Humanos que tentem ignorar aquilo que sabem ser a verdade, porque não continuarão a ter, durante muito mais tempo, um índice vibracional dual.
Mike não compreendeu completamente a nova informação espiritual que a voz lhe dera. Não obstante, recebera a resposta à sua pergunta. Sabia que podia dar meia volta e regressar à cidade. A escolha era sua.
Mas, enquanto estivesse ali, continuaria a ver a porta. Se optasse por ignorá-la, apesar de saber que existia, era provável que se desequilibrasse e, sem dúvida, adoeceria. De algum modo, tudo isto fazia sentido, e o seu desejo era avançar, não retroceder.
Desta forma, pegou nas maletas e na bolsa e cruzou a porta que significava o início da sua viagem. Esse caminho era um simples carreiro de terra, similar a qualquer caminho de qualquer barranco. Estava emocionado, e pôs-se em marcha, deixando para trás, rapidamente, a porta aberta.
Logo de seguida, uma figura esverdeada, sinistra e indefinida, deslizou atrás dele, passando também pela porta. Assim que passou, pisou o arbusto que definhou imediatamente. Se Mike não se tivesse adiantado terse-ia dado conta da sua presença e do fedor que desprendia. Rapidamente, esta figura começou a seguir Mike, mantendo-se fora da sua vista, mas acompanhando o seu passo impetuoso. Como era um espectro astuto e veloz, Aquilo seguia Mike ensombrando o seu ímpeto e a sua alegria com a mesma quantidade de ódio e propósitos obscuros. Mike não podia sequer imaginar que Aquilo existia.
Pouco depois de se ter posto a caminho, o panorama e, inclusive, a percepção do terreno, mudaram ostensivamente.
Já não conseguia ver a gigantesca cidade de Los Angeles, nem a enorme quantidade de prédios
da área suburbana. De facto, não havia qualquer indício de civilização, como, por exemplo, postes de telefone, aviões e auto-estradas. Tomara, com entusiasmo, aquele caminho não asfaltado que se abrira na sua frente, e avançara sem pensar, como uma criança que abre os seus presentes de Natal. Então, apercebeu-se de que, passo a passo, ia entrando profundamente noutro mundo. A viagem estava levando-o a uma realidade
que ainda estava longe de apagar e que acabara de experimentar. Mike perguntou-se se não se encontraria num lugar entre a Terra e o Céu, onde começaria a sua aprendizagem espiritual. Tinha dado como certo que esse processo não tardaria, o que o prepararia para a honra de regressar ao Lar. O caminho, parecido com um carreiro, começou a alargar-se gradualmente até que ficou da largura de uma estrada. Não apresentava quaisquer vestígios de pegadas, e era muito fácil de seguir.
Subitamente, Mike olhou à sua volta. O que era aquilo?... Os seus olhos captaram uma imagem verdeescuro que se movia rapidamente, e que correu apressadamente para a esquerda, ocultando-se atrás de uma rocha, grande e redonda.
- Deve ser a fauna local - pensou.
O caminho que tinha percorrido até agora era um reflexo exacto do lugar para onde agora se dirigia: uma estrada larga que se escondia e voltava a aparecer, desaparecendo no horizonte, colina após colina.
O caminho percorrido desenrolava-se num campo exuberante e magnífico, cheio de árvores, prados verdejantes e florações entre as rochas. As flores salpicavam a paisagem como infinitos pontos de cor luminescente, situados exactamente nos lugares precisos daquele tapete da Natureza.
Mike parou para descansar. Não trazia relógio mas, ao observar na posição do Sol, calculou que seria hora de almoço. Sentou-se à beira do caminho e comeu os restos do substancial pequeno-almoço, que guardara para a próxima fome. Olhou à sua volta e apercebeu-se da tranquilidade.
- Não há pássaros - pensou. Olhando para o chão mais de perto, acrescentou. - E também não há insectos!
Este lugar é realmente estranho. - Mike observava tudo quando sentiu uma ligeira brisa no cabelo. «Bom, pelo menos, há ar! - Olhou para o céu e contemplou o azul nítido de um dia magnífico e renovador.
Apercebeu-se que não havia mais comida, mas também sabia que não estava sozinho e que, de um modo ou outro, Deus lhe daria sustento. Recordou a história de Moisés no deserto, o qual tinha percorrido durante 40 anos juntamente com as tribos de Israel. Recordou que esses nómadas receberam o alimento do céu, e reflectiu sobre esta história, perguntando-se se seria verdadeira. Pensou: Todas aquelas famílias que seguiram Moisés tinham adolescentes refilões, tal como temos hoje. E imaginava-os a queixarem-se aos seus respectivos pais: - Eh! Já é a oitava vez que estamos na mesma rocha, desde que nascemos! Por que confiam nesse tipo, esse tal Moisés?... O homem só nos faz andar em círculos! Ele não pode ser assim tão sabedor!
Será que ainda não percebem isso?
E riu-se enquanto imaginava a cena. Então, perguntou-se se, dentro em pouco, veria essa rocha… que também lhe indicaria que estava a andar em círculo! Não tinha a menor ideia para onde se dirigia, tal como os israelitas no deserto e também não tinham que comer! A semelhança entre ambas as situações ainda lhe deu mais vontade de rir.
Talvez porque o riso tivesse sido respeitado ou, simplesmente, porque se tratava do momento propício, a verdade é que ao sair da curva seguinte do caminho de terra, Mike, viu-a. Era a primeira Casa, de cor azul brilhante. Pensou:
- Céus!... Se Frank Lloyd Wright visse isto, daria um grito! - E, rindo-se para dentro, acrescentou: «Espero não ter sido irreverente!» A verdade, porém, é que nunca tinha visto uma Casa azul. O caminho levava directamente à porta, e assim soube e reconheceu que estava diante da sua primeira paragem. Além disso, era evidente que não havia qualquer outra edificação nos arredores.
À medida que Mike se aproximava da pequena casa de campo, pôde apreciar que a sua cor era azul metálico e que, do seu interior, saia uma luz difusa. Enquanto percorria o caminho até à porta, reparou num pequeno sinal que identificava a Casa como CASA DOS MAPAS. Reconheceu, de imediato, que era isso, precisamente, que tinha pedido. Talvez o resto da viagem não tivesse tantas incertezas. Um mapa actualizado podia ser um instrumento valioso nesta estranha terra.
A porta da Casa abriu-se subitamente para dar passagem a uma criatura alta e bonita… de uma cor azul que se harmonizava perfeitamente com o azul da Casa. Era, evidentemente, uma entidade angélica pois, tal como o anjo da visão, ultrapassava a realidade e era maior do que um Ser Humano. A sua presença enchia o ar de uma sensação de esplendor e de uma essência floral. Uma vez mais, Michael conseguia aperceber-se da fragrância que emanava da entidade. Então, este grande ser azul, postou-se na sua frente.
- Bem-vindo, Michael Thomas de Propósito Puro! Estávamos à tua espera.
Diferentemente do anjo da visão, a cara deste ser era perfeitamente visível, e Mike pôde ver nela uma sensação de bem-estar e de alegria que parecia ser contínua, dissesse o que dissesse. Sentiu-se agradado pela sua companhia e mostrou-se respeitoso perante a situação. Saudou o anjo: - Bem-vindo tu também, grande ser azul.
Mike engoliu em seco. E se o anjo não gostasse que lhe chamassem azul?... E se a sua cor azulada fosse somente um produto da mente humana e ele, de facto, não fosse azul?... «Talvez até nem goste dessa cor!»
Mike suspirou ante a lista de «E se…» que estava a passar pela sua mente humana.
- Sou Azul para todos os seres, Michael Thomas de Propósito Puro – disse, pensativo, o anjo - e aceito as tuas boas-vindas com alegria. Por favor, entra na Casa dos mapas e prepara-te para passares aqui a noite.
Desta vez, Mike alegrou-se por o anjo ter lido os seus pensamentos. Ou, mais do que lê-los, podia sentilos, tal como lhe tinha dito o anjo da visão!... Em qualquer caso, alegrou-se por não ter ofendido o guardião da primeira Casa.
Mike e o anjo, duas entidades diferentes reunidas, entraram na Casa Azul. Mas, enquanto a porta se fechava atrás deles, dois olhos descomunais, penetrantes, coléricos e vermelhos vivo, que os espiavam atentamente, um pouco para a esquerda da entrada da Casa, demonstravam estar muito alerta. Não se cansavam, e eram muito pacientes e silenciosos. Não se mexeriam nem pestanejariam até verem que Michael Thomas estava pronto para recomeçar a sua viagem.
Ao entrar em Casa, assombrou-se com o que viu. O interior da estrutura era imenso. Parecia interminável, ainda que o seu exterior fosse modesto e humilde. Lembrou-se que o anjo da visão lhe dissera que as coisas podiam não ser o que pareciam, e era evidente que isto fazia parte da nova e estranha realidade da sua consciência. E fez conjecturas acerca de esta nova percepção: Teria um significado mais amplo?
Seguindo o anjo, Mike percorreu os amplos vestíbulos da Casa dos Mapas. O interior lembrava o de uma biblioteca de primeira categoria, parecida com algumas das ilustres bibliotecas europeias, onde estão classificados importantes livros históricos, de todos os tipos. No entanto, em lugar de estantes com livros, nas paredes havia dezenas de milhar de cubículos, cada um dos quais parecia conter algo que Mike identificou como um pergaminho. As paredes pareciam não ter fim, e havia cubículos em ambos os lados de cada vestíbulo que ia cruzando, com vários andares de altura. Embora não pudesse ver de perto os cubículos, era possível que contivessem mapas, já que o nome da Casa assim o indicava. Mas, porque havia tantos?... O percurso pelas gigantescas salas parecia no ter fim. Pelo caminho, não se encontrou qualquer ser vivo.
- Estamos sozinhos? - perguntou.
O anjo voltou-se para ele, sorriu e disse:
- Depende do que queres dizer com esse «sozinhos». Estás a ver os contratos que cada Ser Humano estabelece com o planeta.
Dito isto, continuou a andar com naturalidade. Mike parou e olhou à sua volta, reagindo com assombro ao que o anjo acabara de lhe dizer. A distância entre eles aumentou, dado que o anjo continuou a andar. Ao ver que Mike não o seguia, parou, voltou-se e esperou pacientemente, sem dizer nada. Mike viu as escadas apoiadas contra enormes paredes com vários andares, cheias de intermináveis cubículos de madeira que continham pergaminhos, uns ao lado dos outros. O anjo tinha-lhes chamado «contratos».
Mas, o que significava isso?
- Não percebi nada do que me disseste – exclamou Mike enquanto alcançava o anjo.
- Antes de terminares a tua viagem, compreenderás – respondeu o anjo com uma voz reconfortante -. Aqui não há nada que seja aterrador, Michael. Tudo está em ordem, a tua visita era esperada e respeitamo-la. O teu propósito é puro, e todos nós podemos constatar isso. Relaxa e desfruta do nosso amor. As palavras do ente azul impressionaram Mike verdadeiramente. Ninguém, em todo o Universo, poderia dizer algo melhor do que ele acabara de dizer. Começara Mike a sentir com maior intensidade?... O anjo da visão tinha-lhe dado um pouco das mesmas vibrações amorosas, mas agora estava a sentir uma reacção emocional que superava qualquer outra que já experimentara.
- Ser amado é uma sensação maravilhosa, não é verdade, Michael?
O anjo azul caminhava novamente junto de Mike e era muito mais alto de que ele.
- O que é este sentimento - perguntou Mike calmamente. Estou quase a chorar.
- Estás mudando para outra vibração, Michael
- Não entendo o que isso quer dizer… Eh!... o senhor tem nome?
Mike novamente se perguntou se teria ofendido aquele ser. E se fosse um anjo feminino?... Mike nada sabia acerca deste tipo de coisas, mas o porte e a aparência do anjo poderiam ser perfeitamente femininos.
- Chama-me simplesmente Azul – respondeu o anjo piscando o olho -. Eu não tenho género, mas, pelo meu tamanho e pela minha voz, a tua mente deduz que sou do género masculino. Para mim, está bem que me trates como tal. - Fez uma pausa para que Mike pudesse captar o que fora dito e, continuou: A tua estrutura celular de Ser Humano pode existir em diversos índices vibratórios, Michael. O índice vibratório a que estás habituado é, digamos assim, o nível número um. Habituaste-te a ele, que te serviu dignamente. Todavia, nesta viagem é preciso que vás mais longe, que passes a um índice vibratório de valor seis ou sete, para assim poderes avançar até à tua meta. Neste momento estás a mudar para o que poderíamos chamar o «índice dois», dado que não termos um nome melhor para lhe dar. Como já te disse, cada índice vibratório implica
uma maior consciência da verdadeira realidade de Deus. O que estás a sentir agora é a consciência do amor. O amor é tangível, Michael. Tem propriedades físicas e é poderoso. O teu novo índice vibratório permite-te senti-lo muito mais, como nunca tinhas sentido. É a essência desta Casa, e irá intensificar-se à medida que fores visitando cada uma das outras Casas.
Mike estava encantado por ouvir Azul. Esta fora a explicação mais longa e, também, a mais clara, que tinha recebido até ao momento.
- És um mestre? – perguntou?
- Sim, cada um dos anjos das Casas existe com essa finalidade, excepto o da última. Terei de te fazer várias revelações que dizem respeito à minha Casa, e os outros anjos farão o mesmo. Quando tiveres terminado a viagem, a tua visão de conjunto acerca de como funcionam as coisas no Universo será muito maior do que a que tens agora. A minha missão é proporcionar-te parte daquilo que te tornaste merecedor por teres expressado o teu propósito. Estás aqui, na minha Casa, para receber o mapa do teu contrato. Amanhã cedo, antes que tu prossigas o teu caminho, mostrar-to-ei e responderei a algumas perguntas. É muito importante que esta Casa seja a primeira, porque te ajudará na tua viagem. De momento, convido-te a que desfrutes
dos nosso presentes que consistem em sustento e descanso.
De novo, Mike seguiu o anjo, a quem começava a sentir como se fosse um velho amigo… ainda que muito azul. Entraram num bonito jardim interior onde todos os frutos e vegetais, todos os canteiros e hortas eram cultivados utilizando uma meticulosa agricultura. A luz, tal como em todas as outras salas, entrava a jorros pelas clarabóias do tecto, enchendo cada zona de uma essência exterior natural. Mike também podia detectar o cheiro do pão cozendo no forno, que provinha de outra zona do imóvel.
- Quem se encarrega da manutenção desta Casa? – perguntou Mike -. Só te vejo a ti, aqui. Tu comes?
- Cada Casa tem espaços como este, Michael. E, não, eu não como. Este jardim existe exclusivamente para os Humanos que, como tu, estão a fazer este caminho, dedicam um tempo a esta experiência de aprendizagem e passam por aqui. O jardim tem muitos zeladores, só que agora não podes vê-los. Enquanto percorreres o teu caminho de conhecimento, não te faltará sustento, saúde e alojamento. Esta é a nossa forma de te
honrar e respeitar o teu propósito!
Mike começou a sentir a agradável sensação de estar protegido, enquanto iam visitando outras salas… com o Ser Humano seguindo sempre o ente azul.
Finalmente, chegaram a uma zona singular de descanso, composta por dependências privadas, providas de uma fantástica cama de dossel e memoráveis lençóis brancos, que convidavam Mike a deixar cair sobre eles o seu corpo fatigado. As fofas almofadas chamavam a sua atenção, oferecendo-lhe a comodidade e a segurança de um sono profundo. Mike esta espantado com o nível de organização que reinava naquela Casa. Então, perguntou espantado:
- Tudo isto é para mim?
- Para ti e para todos os outros, Michael. Tudo isto foi preparado para que qualquer um que tenha o mesmo propósito do que tu.
Na sala contígua havia um banquete tal, que Mike jamais conseguiria consumi-lo todo, por muito que tentasse.
Era composto pela comida mais suculenta que jamais vira e em demasia para uma só pessoa.
- Come o que quiseres, Michael – disse o anjo – que nada se desperdiçará. Mas não guardes o que sobrar; resiste à tentação de levar. Isso faz parte de uma prova do teu processo, e é algo que entenderás mais tarde.
Azul deixou-o sozinho e saiu do recinto. Mike pousou a sua bagagem, sentou-se e pôs-se a comer como raramente tinha comido. Teve cuidado para não cair na gulodice, mas comeu do delicioso manjar até estar satisfeito. As pálpebras começaram a fechar-se, e o ambiente proporciona um grau de comodidade que Mike não voltara a experimentar desde o tempo de criança, ao cuidado dos seus carinhosos pais.
- Se pudesse conservar esta sensação! - pensou. Até o facto de ser Humano valera a pena. Levantou-se da mesa pensando que lavaria os pratos sujos no dia seguinte de manhã. Sentia-se tão cansado! Conseguiu tirar a roupa com dificuldade, e pendurou-a nos cabides da parede. Caiu redondo na cama e rapidamente foi possuído pela cálida abrangência de um sono tranquilo.
Na quietude da manhã, Mike levantou-se sentindo-se incrivelmente renovado. Lavou-se e dirigiu-se à zona do restaurante, onde constatou que já tinham levantado a mesa. No lugar dos pratos sujos do jantar, estava um fantástico pequeno-almoço.
Em parte, tinha acordado com o cheiro de batatas fritas e dos ovos estrelados, e com o aroma delicioso de um pão acabadinho de cozer. Comeu sozinho, e naquele silêncio novamente se perguntou se a sua decisão de voltar para Casa fora correcta:
- Será um erro querer sair da experiência terrena?... O que acontecerá àqueles que deixamos para trás?
Eles não teriam a capacidade de experimentar os níveis de progresso vibratório que ele podia atingir. Seria justo?... Começou a ser invadido por um sentimento de melancolia ao pensar nos seus amigos e nos seus companheiros de trabalho. Estava até preocupado com a sua ex-amante! E perguntou-se:
- O que é que está a acontecer?... Começo a sentir empatia com toda a gente. Isto não costumava acontecer-me. É verdadeiramente doloroso!... Começo a lamentar o facto de possuir algo que os outros não têm.
Quer isto dizer que estou errado?... Deveria voltar para trás?
Subitamente, Azul apareceu no umbral da porta e disse:
- É inevitável que te faças essa pergunta, Michael. Uma vez mais, o anjo sintonizara com os sentimentos de Mike. Embora sobressaltado, Michael adorou ver Azul e deu-lhe as boas-vindas com um aceno de cabeça.
Disse:
- Fala-me dessas coisas, Azul. Com toda a honestidade, preciso de orientação. Começo a questionar se fiz
o que deveria ter feito.
- O trabalho do Espírito é maravilhoso, Michael Thomas de Propósito Puro – disse Azul -, e o postulado da iluminação é este: primeiro, ocupa-te de ti mesmo, e a dignidade da tua viagem será transmitida àqueles que te rodeiam de uma maneira sincrónica, dado que o propósito de uma pessoa sempre afectará muitas outras.
- Uma vez mais, tenho dificuldade em compreender totalmente o que dizes, Azul – replicou Mike, confuso.
- Ainda que não o compreendas neste momento, Michael, as tuas acções afectarão os outros, dando-lhes a oportunidade para tomarem as suas próprias decisões. Não teriam essas opções se tu não tivesses decidido estar aqui, agora. Confia na verdade destas coisas, e não te recrimines.
Mike sentiu que o seu Espírito se libertava de um grande peso. Embora Azul não tivesse conseguido que ele compreendesse por que as coisas funcionam espiritualmente, a afirmação do anjo chegava-lhe, e isso fazia com que se sentisse com mais determinação para seguir em frente. Então, recolheu os seus pertences e saiu do restaurante privado e da zona de dormitórios. Entrou no enorme vestíbulo que desembocava na porta pela qual passara, no dia anterior, vindo do exterior. Azul caminhava lentamente atrás dele, enquanto Mike se maravilhava com a imensidade de tudo o que o rodeava. O anjo não disse nada quando reparou que
a sua bolsa mostrava umas protuberâncias: sabia que eram pães e bolos!
- Onde vamos? – perguntou Mike -. Sigo nessa direcção.
Sabia que tinha de receber o seu próprio mapa e queria que Azul o levasse até ele. Mas Azul disse:
- Espera aqui.
Os dois pararam no centro de um enorme vestíbulo azul, profusamente adornado. Azul dirigiu-se em silêncio para uma parede afastada, perto de uma escada e disse:
- Chega aqui, Michael.
Mike obedeceu e, num ápice, Azul fê-lo subir a escada até ao cubículo específico onde se encontrava o seu mapa. À medida que ia subindo, agarrado ao corrimão, notou que havia um nome escrito em cada cubículo embutido na parede. Na verdade, havia dois nomes em cada compartimento: um deles parecia escrito em caracteres árabes e o outro em caracteres romanos. Em lugar de estarem ordenados alfabeticamente, esses cubículos estavam dispostos segundo um sistema que Mike desconhecia, mas que, sem dúvida, era familiar a Azul. Este, tinha-lhe dito, exactamente, onde procurar e, agora, Mike estava a uma curta distância do compartimento
que Azul lhe indicara.
Finalmente, vi-o. O compartimento tinha escrito «Michael Thomas», junto de outro letreiro escrito em estranhos caracteres, tal como os outros compartimentos. Mike pensou: «Provavelmente, estão escritos na linguagem angélica». Tinham-lhe dado as seguintes instruções: não olhar para o que estava à sua volta, tirara o pergaminho do compartimento correspondente e descer para o examinar. Mike acabava de o tirar do cubículo e começara a descer a escada quando os seus olhos se fixaram noutro de nomes. Sentiu que o seu coração
parara! Os nomes dos seus pais também estavam ali! A disposição dos pergaminhos era em grupos familiares! Era nisso que consistia o sistema espiritual utilizado no enorme vestíbulo. Mike sabia que estava absolutamente proibido de tocar no pergaminho de outra pessoa; no entanto, ficou ali por uns momentos para examinar alguns dos nomes que não faziam sentido para ele.
- Por que estão esses outros nomes, junto dos da minha família?
- Michael! – chamou Azul, de baixo.
- Vou já, senhor! – respondeu um tímido Mike. Azul sabia o que ele estava a pensar, mas Mike não queria formular um tipo de pergunta capaz de romper o protocolo daquele lugar sagrado. Pensativamente, desceu a longa escada azul e entregou o pergaminho a Azul. Este, olhou para Mike durante um bom bocado, e na sua firme expressão não havia segredos: transmitia a sua gratidão por este ter respeitado a sacralidade do sistema.
Mike sentiu que o amor de Deus inundava todo o seu ser, e ambos sorriram amplamente em face daquela comunicação sem palavras. Mike começava a sentir que as palavras já não eram necessárias. Era comos e conseguisse comunicar a Azul tudo quanto quisesse, sem emitir qualquer som. E pensou.
- Isto é estranho!
- Não tão estranho como aquilo que irás ver, em breve. – disse Azul em resposta aos seus pensamentos.
- Caramba!... Aqui não tenho hipóteses! - pensou Mike.
Azul ignorou este último pensamento. Colocou o pergaminho sobre uma mesa e virou-se para Mike.
- Michael Thomas de Propósito Puro - disse formalmente -, este é o mapa da tua vida. De uma forma ou de outra, levá-lo-ás contigo, a partir de agora. É-te dado com muito amor e é uma das coisa mais valiosas que jamais possuirás.
Logo Mike recordou as palavras do anjo da visão do hospital a propósito de que a Nova Energia seria muito mais activa do que antes. Então, Mike fez a pergunta inevitável:
- É uma mapa actualizado?
- Mais actualizado do que poderias desejar – foi a fantástica resposta do alto ser de cor azul. Mike ficou até com a sensação de que Azul se ria dissimuladamente.
Azul, sem pronunciar uma palavra, entregou o mapa a Mike, convidando-o a examiná-lo. Mike pegou nele e apertou-o contra o peito, durante um momento, desfrutando daquele presente, como se fosse uma criança.
Sentiu o carácter sagrado do momento, e abriu o mapa com tal cerimónia que fez sorrir Azul, que sabia o que ia acontecer.
Qualquer reacção de assombro ou expectativa desapareceu enquanto Mike desenrolava o pequeno pergaminho.
Estava em branco!... Ou não?... Precisamente no centro do pergaminho, visível apenas através de um cuidadoso exame, encontrava-se um grupo de símbolos e letras. Mike inclinou-se e observou de perto aqueles caracteres agrupados. Uma seta assinalava um pequeno ponto vermelho. Junto desse ponto estavam a palavras: Estás aqui. Ao lado, havia um pequeno símbolo que representava uma casa de campo, no qual se podia ler: «Casa dos Mapas». Ao lado deste, havia uma pequena zona profusamente detalhada, de cerca de três centímetros, que continha o caminho percorrido por Mike até ao momento. E acabava ali… sem mais!...
O mapa só mostrava onde ele estava naquele momento, e detalhava, unicamente, uma pequena zona que se estendia, mais ou menos, por cem metros em cada direcção.
- O que é isto? – inquiriu Mike, sem muito respeito. - Trata-se de uma piada angélica, Azul?... Percorri todo este caminho até à Casa dos Mapas para receber um maravilhoso pergaminho sagrado que me diz que… estou na Casa dos Mapas?
- As coisas nem sempre são o que parecem, Michael Thomas de Propósito Puro. Guarda este dom e leva-o contigo.
Na realidade, Azul não estava a responder à pergunta. Mike apercebeu-se intuitivamente que não seria boa
ideia voltar a fazê-la, pelo que enrolou aquele inútil mapa e guardou-o na mochila. Estava claramente decepcionado.
Azul, seguido por Mike, percorreu, de novo, o caminho que levava à porta principal e saiu para o ar livre.
O anjo dirigiu-se a Mike, dizendo:
- Michael Thomas de Propósito Puro, devo fazer-te uma pergunta, antes de continuares a viagem para Casa.
- Diz, meu amigo azul, qual é a pergunta?
- Michael Thomas de Propósito Puro, amas Deus? – Azul estava muito sério. Mike achou estranho que o anjo da visão do hospital também lhe tivesse feito a mesma pergunta, e quase no mesmo tom. E perguntou se qual seria o significado desta repetição.
- Querido e esplendoroso mestre azul, dado que podes ver o meu coração, já sabes que amo Deus, sem qualquer dúvida.
Mike olhou de frente para o anjo, enquanto lhe dava a sua sincera resposta.
- Que assim seja – disse Azul e entrou na pequena casa azul-cobalto, fechando a porta com firmeza.
Mike tinha uma sensação de repentina desconexão e perguntou-se:
- Esta gente alguma vez dirá adeus?!
* * *
O tempo estava agradável e aromático. Mike pegou na sua bagagem e na bolsa com víveres, entre os quais estavam os bolos e o pão que tinha guardado na Casa Azul, e meteu pelo caminho de terra, numa direcção que sabia que o conduziria a outra Casa de aprendizagem. Começou a relembrar a lista de todos os elementos humorísticos que faziam parte dos acontecimentos ocorridos na Casa dos Mapas, e pensou:
«Imagina!... Um mapa que só te diz onde estás nesse preciso momento! Que inutilidade!... É evidente que já sei onde estou. Que lugar mais estranho, este!
Ecos dos risos soaram nas colinas, enquanto Michael Thomas de Propósito Puro fazia participar da alegria da sua situação, as árvores e as rochas, à medida que prosseguia a sua viagem para Casa.
Os seus risos também chegaram às orelhas verdes, cobertas de verrugas, do ente tenebroso que o seguia, somente a duzentos metros de distância. Mike não tinha a menor ideia de que a dita forma obscura tinha esperado pacientemente que ele retomasse o caminho e, uma vez mais, estava a seguir os seus passos. O ente não projectava alegria, somente a determinação de que Michael Thomas jamais chegaria à última Casa. Já tinha concebido a sua estratégia que consistia em reduzir a distância entre ele e Michael Thomas de Propósito Puro.

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