"Abençoado seja o Humano que busca Deus à sua própria maneira, ainda que eles estejam em algum prédio, entoando canções ou cultivando doutrinas, que podem ser fabricadas pelo homem.
Na realidade, eles empregam todo o seu coração e a sua compaixão, na busca de Deus.
Que eles não sejam julgados por seus irmãos e irmãs, por este motivo, pois são igualmente amados por Deus."

domingo, 29 de maio de 2011

A História de Michael Thomas e os Sete Anjos III

A Preparação
(Começa a Viagem)

- Incline a cabeça para a esquerda, para a bandeja! - gritou a enfermeira para o paciente.
- Ele está a vomitar.
- Nessa noite, a sala de emergência do hospital, como sempre às sextas-feiras, estava a abarrotar.
Desta vez a lua cheia também complicou bastante. Embora não possuíssem qualquer conhecimento sobre astrologia ou outro assunto metafísico, a maioria dos hospitais tinha o hábito de colocar mais funcionários nas Urgências nessa época do mês. Parecia que ocorriam coisas que não aconteciam noutras alturas. A enfermeira correu para fora do quarto para atender outra chamada urgente.
- Ele está consciente? - perguntou o vizinho que tinha acompanhado Mike até o hospital. O enfermeiro de bata branco baixou-se para examinar atentamente os olhos de Mike.
- Sim. Está a acordar. Quando conseguir conversar com ele, não o deixe levantar-se. Está com um corte muito feio na cabeça e levou alguns pontos, além do maxilar que ainda vai doer durante bastante tempo. A radiografia mostrou que está praticamente fracturado. Felizmente conseguimos corrigir o desvio do osso, enquanto ele estava inconsciente.
O enfermeiro saiu do cubículo, uma área separada por uma cortina presa numa armação semicircular. Ao sair fechou a cortina novamente, para que Mike e o seu vizinho pudessem ficar sozinhos. Os sons da ala de emergência eram quase imperceptíveis, embora o vizinho conseguisse ouvir as pessoas e as actividades nos cubículos de ambos os lados. À esquerda, estava uma mulher, vítima de uma punhalada; do lado direito, estava um senhor idoso com falta de ar e um braço inchado. Estavam ali há tanto tempo quanto Mike – cerca de uma hora, aproximadamente.
Mike abriu os olhos e sentiu uma forte dor no maxilar inferior. Soube imediatamente que estava acordado.
«Acabou-se o sonho com anjo», pensou, assim que a forte dor e toda a situação se transformaram lentamente em realidade. A iluminação fluorescente que iluminava a sala com uma luz brilhante fez com que Mike crispasse o rosto e fechasse os olhos. Fazia frio na sala e, instantaneamente, sentiu necessidade de um cobertor.
Mas ninguém lhe ofereceu um.
- Você esteve inconsciente durante um bom bocado, companheiro, - disse o vizinho, sentindo-se um pouco embaraçado por não saber nem o nome de Mike. - Eles cozeram-lhe a cabeça e puseram o maxilar no lugar. É melhor que não fale.
Mike olhou agradecido para o homem que estava curvado sobre ele. Apesar de estar ainda um pouco atordoado, analisou as feições do rosto do vizinho. Reconheceu-o como sendo o morador do apartamento ao lado do seu. O homem sentou-se junto da cama… e Mike que caiu num sono profundo.

* * *

Quando acordou, apercebeu-se que estava num local diferente. Estava tudo tranquilo e silencioso, deitado numa cama. Assim que abriu os olhos e tentou clarear a mente enevoada, compreendeu que continuava no hospital, mas, desta vez, num quarto particular. «Que quarto mais acolhedor», pensou. O seu olhar apático levou-o até os quadros na parede e à vistosa cadeira ao lado da cama. Havia um material de isolamento acústico no tecto, cruzando o quarto em pequenos e elegantes quadrados… que a sua visão distorcida transformava em losangos. As lâmpadas fluorescentes continuavam lá, mas desligadas e semi-escondidas pela decoração. A claridade vinha principalmente de uma janela com vista para a baía e um par de lâmpadas dentro
do quarto. Em vez do suporte do aparelho de TV que a maioria dos hospitais, costuma ter na parede em frente da cama, havia um armário com um fino acabamento. As lâmpadas tinham vários tons, como num hotel de luxo, que combinavam com o papel de parede!
Que espécie de lugar era este?... Uma residência particular?... Mas bastou examinar com mais cuidado, para reparar que, em vários pontos do quarto, havia canalizações de ar condicionado, gás e electricidade, habituais em todos os hospitais. Mike adivinhou que, atrás dele, tinha diversos equipamentos de diagnóstico – um deles estava preso ao seu braço com adesivo e emitia um sinal intermitente e periódico.

Aparentemente não havia ninguém por ali, e Mike começou a analisar o que tinha acontecido. Teria sido operado à garganta?... Conseguiria falar?.. Levou a mão bem devagar até a garganta, esperando encontrar ligaduras e até mesmo um aparelho de gesso. Em vez disto, encontrou uma pele macia! Apalpou em volta do pescoço, e verificou que tudo estava bem. Gradualmente, tentou aclarar a garganta, e logo se surpreendeu ao ouvir a sua própria voz. Foi só quando abriu a boca que descobriu qual era o problema. Uma dor violentíssima, capaz de causar náuseas, ferrou-se na boca e na base dos ouvidos. «Já sei onde me doeu,” pensou Mike enquanto guardava o propósito de não abrir novamente a boca tão depressa.
- Ah! Vejo que já acordámos!... Posso dar-lhe algo para lhe tirar essa dor, Sr. Thomas, - disse uma voz feminina, lamurienta mas gentil, vinda da porta do quarto. - Mas irá recuperar mais depressa se conseguir aguentar sem os analgésicos. Não tem nenhum osso partido; só precisa de exercitar a mandíbula.
A enfermeira, usando um uniforme padronizado, aproximou-se da cama. Para além desse uniforme, bem passado e perfeito, notava-se que tinha muita experiência. Acima do bolso, várias medalhas e distintivos demonstravam a sua capacidade.
Mike falou com a boca entreaberta para que não lhe doesse, movendo apenas a mandíbula para pronunciar as palavras:
- Onde estou eu?
- Está num hospital privado de Beverly Hills, senhor Thomas. - disse a enfermeira, aproximando-se da cama. - Passou aqui a noite, depois de o terem trazido dos Cuidados Intensivos das Urgências. Mas em breve terá alta.
Mike abriu os olhos surpreendido, e o seu rosto assumiu uma expressão de grande preocupação. Sabia de casos em que pagavam de 2 a 3 mil dólares diários por estar internado num sítio assim. O seu coração palpitou aceleradamente ao pensar como ira pagara a factura.
- Não se preocupe, senhor Thomas – disse a enfermeira tranquilizando-o, ao ver a expressão de Mike -.
Tudo está solucionado. O seu pai tratou de tudo e já pagou a factura.
Mike permaneceu em silêncio por um momento, a pensar como é que o seu pai, já falecido, pudera fazer algo assim. Talvez ela tivesse deduzido que era o seu pai, mas era o seu vizinho. Mike recuperou força para dizer o seguinte:
- Você viu-o?
- Claro que o vi! É muito simpático, o seu pai. Alto e louro como você, e com uma voz de santo. Sabe?
Teve muito êxito entre as enfermeiras.
Enquanto ouvia a enfermeira, reparou que ela tinha um sotaque de Minnesota, onde ele nascera. Naquela zona fala-se um pouco arrevesado, pondo o sujeito no final da frase: uma forma estranha de falar que ele tinha tido que corrigir quando chegara à Califórnia. A forma de falar de Minnesota fazia lembrar Yoda(1), uma das personagens da Guerra das Estrelas.
- Pagou em dinheiro – continuou a enfermeira - Não se preocupe, Sr. Thomas. Ele até deixou uma mensagem para si.
Mike sentou o coração aos pulos, embora continuasse a suspeitar que o «seu pai» era o vizinho. Porém, a descrição da enfermeira não quadrava com nenhum dos dois. Ela saiu do quarto para ir buscar a mensagem.
Menos de cinco minutos depois regressou com um pedaço de papel que, evidentemente, tinha uma mensagem escrita à máquina.
- Ele ditou a mensagem - explicou a enfermeira, enquanto tirava a folha de papel de dentro de um sobrescrito, timbrado com o logótipo do hospital -. Disse que não tinha boa letra, por isso o escrevemos à máquina.
Mesmo assim é difícil de entender. O seu pai tratava-o por Pepe quando você era pequeno?
A enfermeira entregou a folha a Mike. Leu o seguinte:
Querido Michael – PePe:
Nem tudo é o que parece. A tua busca começa agora. Cura-te rapidamente e prepara as tuas coisas para a viagem. Preparei a tua rota para Casa. Aceita este presente e segue em frente. O caminho ser-te-á mostrado.
Mike sentiu um calafrio a percorrer-lhe a espinha. Olhou para enfermeira com gratidão e, colando o papel contra peito, fechou os olhos dando a entender que queria ficar sozinho. A enfermeira captou a mensagem e abandonou o quarto.

A mente de Mike processou várias possibilidades. A nota dizia: Nem tudo é o que parece. Mas esta era uma explicação insuficiente! Sabia perfeitamente que, na noite anterior, uma facínora tinha pontapeado e ferido a sua garganta, e tinha-o deixado meio morto no chão do apartamento. Sentira, segundo a segundo, como todos os ossos tinham chiado durante aquele horrível incidente. No entanto, nada sofrera excepto a mandíbula deslocada, que logo fora colocada novamente no lugar, alguns arranhões e uma ou outra nódoa negra na cara e na cabeça, que doeriam durante algum tempo mas que, de forma nenhuma, o deixariam incapacitado.
Era esse o «presente» que tinha recebido?
A ideia de que a visão do anjo tinha sido um acontecimento verídico não passou a fazer parte da realidade de Mike até ler aquela mensagem. Se não era do anjo… de quem era, então? Realmente, não conhecia ninguém com bastante dinheiro ou que fosse suficientemente conhecido para lhe dar fosse o que fosse… muito menos para pagar a sua considerável conta de hospital. Que outra pessoa, para além do anjo, sabia da viagem que ele prometera fazer?... O seu corpo vibrava com tanta pergunta e ele continuava com dúvidas acerca da mensagem e do seu significado, quando, finalmente, recebeu a confirmação do que necessitava. Então sorriu: a enfermeira perguntara se lhe chamavam Pepe. Na nota estava escrito claramente PePe, como se fosse um nome (indubitavelmente, era o anjo quem o ditara, letra por letra, e também tinha pago a factura).
Mas não se tratava de um diminutivo ou de uma alcunha; aquelas letras eram iniciais de: Pe-Pe – «Propósito Puro». Portanto, a saudação significava: Querido Michael, de propósito Puro!
O sorriso de Mike transformou-se em riso; estava dorido mas continuava a rir, e todo o seu corpo estremeceu com a alegria do momento, até que, por fim, se calou e derramou lágrimas de felicidade.
Iria para Casa!
Os dias seguintes foram especiais. Mike recebeu alta e saiu do hospital, levando consigo uns quantos analgésicos que o ajudariam a aliviar a dor. Mas descobriu que não precisava deles. O seu maxilar parecia recuperar a uma velocidade incrível, o que lhe permitia exercitá-lo com cuidado. Podia falar bem e, ao fim de dois dias, já conseguia comer com normalidade. No início custou-lhe um pouco, mas ao longo do processo apenas sentiu alguma dores. O maxilar estava um pouco rígido mas era suportável, dadas as circunstâncias. Mike recusou- se a tomar os analgésicos para evitar perder a euforia que sentia ao pensar que iria realizar a sua busca
espiritual. Em pouco tempo os cortes e as nódoas negras foram desaparecendo progressivamente, ainda que se tenha admirado com a rapidez com que tal ocorreu.
Renunciou ao seu emprego pelo telefone. Tinha imaginado muitas vezes como o faria e, de facto, saboreou o momento de dar por finalizado o seu vínculo com trabalho horrível. Depois telefonou ao seu amigo John explicando-lhe, o melhor que pôde, que ia tirar umas longas férias e que possivelmente não regressaria ao escritório. John desejou-lhe muita sorte, mas expressou a preocupação pelas reservas de Mike acerca do que tencionava fazer.
- Vamos, pá, a mim podes dizer – disse John em tom persuasivo. - Não direi a ninguém, nem farei nada…
O que é que se está a passar?
Mike sabia muito bem que John não entenderia a explicação que lhe aparecera um anjo e lhe tinha dado instruções. Assim, manteve as suas reservas.
- Tenho de fazer uma viagem muito pessoal – disse a John. - Significa muito para mim. - E não deu mais explicações.
Mike arrumou as suas coisas e despediu-se do apartamento. Separou cuidadosamente os seus pertences mais pessoais, da roupa e dos electrodomésticos. Não tinha grande coisa, mas guardou em duas maletas o que mais gostava: as fotos e alguns livros. Como tinha consciência de que não podia levar muita roupa, seleccionou apenas a que precisaria se fosse fazer uma breve viagem, e guardou-a junto das fotos e dos livros.
Mike chamou o vizinho que lhe tinha salvo a vida e ofereceu-lhe roupa, o televisor, a bicicleta que usava para ir trabalhar e grande parte dos escassos pertences que acumulara durante o ano anterior. Disse-lhe:
- Se não quiser, ofereça a uma instituição de beneficência.
O vizinho ficou comovido pelo gesto e apertou efusivamente a mão de Mike, mostrando um aberto sorriso.
Mike teve a sensação de que aquele homem precisava de muitas daquelas coisa que lhe dera. Já que, depois de ter chamado a ambulância, o vizinho também tinha salvo o Gato, o peixe, era natural que também ficasse com ele. Afinal, já estava no seu aquário.
- Adeus, Gato, porta-te bem! – disse Mike com um sorriso, ao despedir-se dele no apartamento do vizinho.
Gato nem se dignou a olhar para ele porque estava entretido com os seus novos amigos do aquário.
Ao quinto dia depois de ter saído do hospital, Mike apercebeu-se que estava a chegar ao fim dos preparativos. Não sabia exactamente o que fazer nem onde ir. Era de noite e tudo estava silencioso. Tinha a certeza de que o anjo sabia que ele estava pronto para partir e que o dia seguinte seria o início de algo novo. Sentia que a sua viagem era algo absolutamente real; estava convencido de que saberia o que fazer. Tudo quanto tinha acontecido naquela semana justificava a sua fé.
Então, decidiu rever o que tinha guardado nas malas para a sua viagem espiritual.
Abriu-as e examinou o que julgava necessário levar consigo. Antes do mais, as fotos. O álbum estava a desfazer-se devido ao passar do tempo, e muitas das velhas fotos estavam seguras às folhas por aqueles antigos cantos autocolantes, que se usam nos anos 50. Abriu o álbum com cuidado para não os descolar e, uma vez mais, sentiu a familiar melancolia ao deparar-se com a fotografia do casamento dos seus pais, a primeira do álbum.
Tinha-a encontrado depois do acidente, junto de outras fotos deles. Nesta, os pais sorriam para a câmara, sendo evidente que estavam muito apaixonados; começavam ali a sua vida em comum. Mike achava graça à roupa que usavam, e, se bem se lembrava, aquela era a única vez que vira o seu pai de gravata. Mais tarde, Mike encontrou o velho vestido de noiva da sua mãe numa arca, e teve de pedir a um vizinho que o embrulhasse e guardasse, pois, para ele, era muito doloroso. Quando tiraram aquela foto, Mike era apenas um brilho de entusiasmo no seu olhar, pois encaravam o futuro com muita esperança de coisas boas da vida. Contemplou a foto durante algum tempo e, finalmente, disse serenamente:
- Papá, mamã. Sou o vosso único filho. Espero que o que vou fazer não vos decepcione. Gosto muito dos dois e desejo vê-los em breve.
Passaram uns minutos preciosos, durante os quais, Mike folheou as páginas do álbum que continha a história da sua infância. Isto arrancou-lhe mais do que um sorriso. Ali estavam a velha quinta e as fotos dos seus diversos amigos. Adorava a foto no tractor, quando tinha seis anos. Aquele álbum era um tesouro! Sentiu que Deus estava contente porque ele respeitava os seus pais e a sua educação, ao decidir levar aquelas fotos na sua viagem especial. Não sabia o que acabaria por fazer ao álbum mas, naquele momento, sentia que não podia deixá-lo para trás.
Depois, estavam os livros. Ah! Como os adorava! A sua Bíblia, gasta de tanto lê-la, tinha-o reconfortado em muitíssimas ocasiões. Embora não entendesse todo o conteúdo, sentia a sua energia espiritual. Tinha-a guardado cuidadosamente e era algo a que nunca renunciaria.
Depois, vinham os livros que lera durante a infância, a que atribuía grande significado. Eram apenas uns livritos de bolso, que relia periodicamente. Cada vez que os relia, recordava-se do que fizera naquela idade em que descobrira, pela primeira vez, essas maravilhosas histórias e personagens.
Finalmente, estava a grande aventura de Moby Dick, que leu quando já era mais velho, assim como a colecção de Sherlock Holmes, e os seus poemas favoritos, escritos por autores quase desconhecidos.Tanto os livros quanto as fotos estavam cuidadosamente metidos em duas maletas para poderem ser transportados mais facilmente. Isto permitia-lhe levar também uma bolsa de tamanho médio, capaz de guardar um par de sanduíches, num momento de penúria.
Mike sentiu que estava preparado, e sentou-se no chão do apartamento, agora vazio. Tinha uma almofada, o que lhe bastava para dormir. Estava preparado para defrontar-se com o dia seguinte. A ansiedade gerada pela ideia de ir iniciar a sua busca espiritual quase o impediu de dormir, pois a sua mente estava repleta das imagens do tudo o que tinha acontecido até ao momento… e outras coisas esperavam por emergir da memória!
Era provável que, no dia seguinte, começasse a sua viagem para Casa.

(1) - O bichinho pequenino e de orelhas grandes, instrutor de Luke, o herói da epopeia.

Um comentário:

  1. Olá aqui é Maori Mojave do blog andromedalink. Não precisa publicar isto, pois é só uma informação. Estão bloqueando definitivamente vários blogs espiritualistas e denunciatórios no mundo todo e o meu blog andromedalink foi bloqueado infelizmente. Como sempre fiz backup do conteúdo, repassei todo o conteúdo para um novo blog que se chama : www.andromedalive.blogspot.com, inclusive até agora fiz uma nova publicação lá. Por isso, se quiser , agradeceria se você acessasse o novo blog e o seguisse...tem gente"sinistra" querendo impedir o nosso trabalho...Muitas Felicidades e SHAUMBRA !!!

    ResponderExcluir